- BBC BrasilDepois de ganhar projeção nacional durante eleições, antigovernistas Vem Pra Rua, Revoltados On Line e MBL intensificaram atuação nas redes e nas ruas às vésperas de protesto marcado para domingo
Não é só o trava-línguas: para o líder do MBL (Movimento Brasil Livre),
a estratégia de mobilização do MPL (Movimento Passe Livre) é fonte de
inspiração.
Mas as semelhanças entre o grupo que liderou as
manifestações de junho de 2013 e a articulação que pretende reacendê-las
no próximo domingo não vão muito além.
"Em termos de
estratégia, nos inspiramos no MPL. Nas redes sociais, sim, pensamos de
forma semelhante", diz Kim Kataguri, coordenador nacional do MBL, que
defende o livre mercado e o impeachment de Dilma Rousseff.
"Ideologicamente, somos opostos. E os protestos deles têm sempre
vandalismo."
Procurado, o MPL agradeceu a inspiração do quase
xará. "A gente tem uma forma própria de agir e qualquer movimento pode
se inspirar", afirma Heudes Oliveira, porta-voz do grupo.
Além
dos objetivos políticos distintos, características como modelos de
financiamento, remuneração de equipes e investimentos em imagem dão
personalidade própria aos movimentos da que irão às ruas neste domingo
para manifestações contra o governo.
Depois de ganhar projeção
nacional durante as eleições, os antigovernistas Vem Pra Rua, Revoltados
On Line e MBL intensificaram sua atuação nas redes e nas ruas às
vésperas dos atos.
A seguir, eles dão exemplos à BBC Brasil de suas principais estratégias:
Financiamento
Todos os grupos frisam ser apartidários e não receber dinheiro de partidos ou políticos.
Rogério Chequer, criador do Vem Pra Rua, diz que seu grupo é financiado
por "centenas" de "doações espontâneas de pessoas envolvidas na
coordenação do movimento", mas não revela seus nomes.
A BBC
Brasil teve acesso ao registro do site vemprarua.org.br, URL oficial
usada pelo movimento nas eleições. O domínio foi comprado pela Fundação
Estudar, do empresário Jorge Paulo Lemann, sócio da cervejaria Ambev, da
rede de fast food Burger King e diversos sites de comércio eletrônico.
No fim de 2014, o site foi excluído e o Vem Pra Rua mudou de endereço
online. Em nota, a Fundação Estudar se disse "apartidária" e atribuiu o
caso a uma "iniciativa isolada" de um ex-funcionário.
"A
Fundação Estudar esclarece que não detém o registro e não hospeda em seu
domínio o site vemprarua.org.br. A associação do nome da Fundação com
este site ocorreu erroneamente por uma iniciativa isolada e individual
de um colaborador, que já não faz mais parte do quadro da instituição."
MBL e Revoltados On Line afirmam recorrer à contribuição financeira de
seguidores e aos próprios bolsos para promover seus atos e divulgá-los
nas redes.
Já o 'Revoltados', além de publicar a conta pessoal
de seu criador em diversas postagens, aposta em "moda impeachment". Uma
camisa polo preta com aplicação da frase "Impeachment já" e faixa
presidencial estilizada é oferecida por R$ 99,99. O kit completo – polo,
boné e cinco adesivos – custa R$ 175.
A renda gerada é um
mistério. "Não tenho esse balanço fechado, eu não fechei ainda", diz
Marcello Reis, responsável pelo movimento, que tem entre os alvos a
crise na Petrobras. "Não quero tornar isso público. O valor só será
divulgado para os associados e não para gente que só quer perturbar."
Kataguri, do MBL, diz à reportagem ter arrecadado R$ 7.000 em doações de seguidores para o protesto do dia 15.
Investimentos e imagem
Na internet, como os defensores da tarifa zero, os grupos anti-PT
apostam no maior volume possível de postagens diárias e no bombardeio de
convites para "grandes manifestações".
Também promovem "aulas públicas"
– reuniões em espaços abertos para apresentação de pautas do movimento.
A promoção paga de suas postagens na internet está entre suas diferenças.
"A gente promove posts no Facebook", diz à reportagem o fundador do Vem
Pra Rua. "Não é para ganhar visibilidade, é para direcionar para um
'universo'" – ele não revela quais as características do público-alvo.
Já o Revoltados On Line, líder em número de seguidores, centraliza sua
comunicação em torno de seu criador – que aparece diariamente em vídeos
caseiros e "selfies" com adeptos do movimento.
"Temos uma equipe
fixa de 15 pessoas", diz o 'revoltado' Marcello Reis. "Os
administradores não têm remuneração. Alguns profissionais, editores de
vídeo, fotógrafos, eles são remunerados."
Na internet, Vem Pra
Rua e MBL investem em vinhetas profissionais ao fim de seus vídeos,
linguagem, fotos e cartazes bem elaborados.
Também contam com a
participação voluntária de famosos, como os músicos Paulo Ricardo, do
RPM, e Roger, do Ultraje a Rigor. Eles fazem convites para os protestos.
Autor de frases como "Justiça social é outro nome para caridade com
dinheiro alheio", o MBL investe em campanhas inusitadas para o
engajamento de seus seguidores. Numa delas, convida fãs a enviarem
discursos em vídeo.
"O melhor será convidado para discursar do carro de som", anuncia o grupo.
A cartilha dos 'Revoltados' tem linguagem agressiva: defensor do
impeachment, o grupo usa recorrentemente termos como "ladra", "vaca",
"sapo barbudo" e "cachaceiro" quando se refere a líderes petistas.
O funkeiro carioca Mr Catra foi o famoso escolhido recentemente pelo grupo em um de seus vídeos.
UOL
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