Até
bem pouco, Renan Calheiros tinha sempre no bolso pedidos de nomeação de
apadrinhados para cargos em repartições públicas e estatais. Hoje,
investigado no escândalo da Petrobras sob a suspeita de receber
propinas, o presidente do Senado tem sempre à mão um comício contra o governo.
Articulado com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Renan ensaia a imposição de uma agenda
do Poder Legislativo ao Executivo. Nela, cabem até boas propostas. Por
exemplo: a redução do número de ministérios de 39 para 20 e o corte dos
chamados cargos comissionados, desses que são preenchidos sem concurso.
São
ótimas ideias. O problema é a falta de nexo. Ao defender a supressão de
ministérios e cargos, o PMDB cospe num prato no qual talvez já não
possa comer com a mesma voracidade. Sob as lupas do STF e da
Procuradoria, Renan decerto não se sente à vontade para reocupar nichos
do Estado, como fez na Transpetro por 12 anos.
Para desassossego
de Dilma, Renan declarou que o pacote de ajustes do governo não passará
pelo Legislativo intacto. “O Congresso Nacional está pronto para fazer a
sua parte. Não há como o Parlamento abrir mão de aprimorar o ajuste
fiscal proposto pelo Executivo. O ajuste como está tende a não ser
aceito pelo Congresso porque é recusado pelo conjunto da sociedade.''
É
bom, é muito bom, é ótimo que o Congresso exerça suas atribuições com
independência. Mas a autoconversão de Renan em pregoeiro dessa causa
desafia a lógica. No final de dezembro, o mesmo Renan colocou o
Congresso a serviço do Planalto para aprovar o projeto que autorizou
Dilma 1 a descumprir a meta de superávit de caixa, escondendo uma
irresponsabilidade fiscal que agora explode no colo de Dilma 2.
Em
fevereiro, Renan foi reconduzido à presidência do Senado pela quarta
vez com o apoio decisivo de Dilma. A presidente acreditava piamente que
Renan seria o extintor que apagaria no Senado os pavios que Eduardo
Cunha acenderia na Câmara. A aliança com Renan condena Dilma ao
silêncio. Quem acredita piamente em políticos como Renan perde até o
direito de piar.
Viram o que fizeram com a perspectiva de real aumento das aposentadorias hoje?
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