O juiz federal Sergio Moro, responsável pelas ações envolvendo a
Operação Lava Jato na Justiça Federal no Paraná, disse nesta
segunda-feira (2) que a criminalização da lavagem de dinheiro evita que
um "político desonesto" ganhe vantagens no mundo "extremamente
competitivo" da política e que a investigação deve rastrear o dinheiro
ilegal a fim de se chegar ao chefe do grupo.
Moro citou ainda a série de TV "Breaking Bad" para reforçar a tese de
que os criminosos sempre procuram especialistas em lavagem de dinheiro
para praticar esse tipo de delito.
As declarações foram dadas em uma palestra para alunos de um curso da Escola da Magistratura Federal do Paraná.
Segundo o juiz, a lavagem é "o crime do momento" não só no Brasil e que o assunto precisa ser mais estudado.
Ricardo Borges - 4.dez.2014/Folhapress | ||
O juiz da Operação Lava Jato, Sergio Moro, durante seminário em dezembro |
Moro chegou a citar a expressão "follow the money" –"siga o dinheiro",
em inglês–, e disse que o crime de lavagem de dinheiro facilita aos
investigadores chegar, com provas, ao chefe do grupo, líder geralmente
escondido na cadeia criminosa.
"Pessoas que têm funções de chefe, que sujam as mãos de sangue, as mãos
de drogas, certamente são os últimos beneficiários da atividade
criminosa", afirmou.
Segundo o juiz, se em outros tipos de atividades ilícitas há dificuldade
em vincular os chefes aos atos de seus subordinados, a facilidade é
maior no caso de lavagem de dinheiro, "porque fatalmente o dinheiro vai
chegar em quem tem poder de controle sobre o grupo criminoso".
O magistrado, que se especializou no estudo sobre a lavagem de dinheiro,
disse que a criminalização dessa prática estabelece uma "barreira entre
o mundo do crime e o mundo fora do crime".
Sem mencionar nenhum caso específico, ele citou como exemplo: "Dentro de
um regime democrático, um agente político muitas vezes precisa ganhar
apoio popular para suas ideias.
E, como normalmente em uma democracia de
massas se faz necessário grandes dispêndios para transmitir essas
ideias, também um político desonesto dentro do âmbito político tem
vantagens que um político honesto não tem".
Da mesma maneira, disse ele, uma empresa que usa recursos sujos ganha
vantagens indevidas de competitividade no mercado. Em novembro do ano
passado, o juiz mandou prender altos executivos das maiores empreiteiras
do país. Parte continua detida.
Em uma palestra de mais de uma hora, Moro, que não dá declarações à
imprensa, abordou ainda o julgamento no Supremo Tribunal Federal da ação
penal "vulgarmente chamada de mensalão".
Ele procurou explicar as diferenças entre as acusações de lavagem de
dinheiro contra o ex-deputado João Paulo Cunha e o ex-diretor do Banco
do Brasil Henrique Pizzolatto, que tiveram resultados de julgamento
distintos.
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