Empresários deram R$ 5,824 milhões para candidatos do PSDB, PT e outros partidos em 2014
Doadores incluem Armínio Fraga (ex-BC), Benjamin Steinbruch (CSN) e apresentador Ratinho (SBT)
Alguns mostram documentos e negam irregularidades; outros não falam – leia texto abaixo
Ao
menos 16 grandes doadores da campanha eleitoral de 2014 também
estiveram, em algum momento, relacionados a contas na agência do HSBC,
em Genebra, na Suíça. Essas pessoas deram R$ 5,824 milhões a políticos e
a partidos no ano passado.
Os dados são o resultado de um
meticuloso cruzamento das doações acima de R$ 50 mil com os registros de
8.667 clientes relacionados ao Brasil e presentes nos arquivos do HSBC
da Suíça nos anos 2006 e 2007.
Ao todo, 142.568 pessoas físicas
doaram para campanhas políticas em 2014 –nem sempre dinheiro, mas também
algum serviço ou produto que foi precificado na prestação de contas.
Nesse universo, apenas 976 doaram R$ 50 mil ou mais para candidatos no
ano passado.
Esses 976 deram R$ 170,6 milhões para as campanhas de 2014. O UOL
analisou esse grupo de financiadores, cruzando cada um dos nomes com o
banco de dados dos 8.667 clientes relacionados a contas no HSBC na
Suíça.
Foram encontrados 16 grandes doadores de 2014 citados no
caso SwissLeaks –a série de reportagens que analisa dados vazados do
HSBC em 2008, numa iniciativa do Consórcio Internacional de Jornalistas
Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) em parceria com o jornal francês “Le Monde”. No Brasil, a apuração é conduzida com exclusividade pelo UOL e pelo “Globo”.
Os
16 nomes encontrados foram os seguintes: Alceu Elias Feldmann (Grupo
Fertipar); Armínio Fraga Neto (ex-presidente do Banco Central); Benjamin
Steinbruch (CSN); Carlos Roberto Massa (o apresentador Ratinho, do
SBT); Cesar Ades (presidente do Banco Rendimento); Cláudio Szajman (VR,
Vale Refeição); Edmundo Rossi Cuppoloni (ex-sócio da Rossi Residencial);
Fábio Roberto Chimenti Auriemo (empreiteira JHSF); Francisco Humberto
Bezerra (ex-sócio do BicBanco); Gabriel Gananian (dono da Steco
Construtora); Hilda Diruhy Burmaian (Banco Sofisa); Jacks Rabinovich
(CSN); José Antonio de Magalhães Lins (sócio da Axelpar); Miguel Ricardo
Gatti Calmon Nogueira da Gama (advogado, OAB-SP); Paulo Roberto Cesso
(nono do Colégio Torricelli) e Roberto Balls Sallouti (BTG Pactual).
Abaixo, os dados das referidas contas
(clique na imagem para ampliar):
Consultados,
esses doadores em sua maioria negaram irregularidades. Em alguns casos,
foram generosos na apresentação de documentos para explicar a
legalidade de suas contas na Suíça, como mostra o post abaixo.
Ter
uma conta na Suíça ou em qualquer outro país não é ilegal, desde que
seja uma operação declarada à Receita Federal e informada ao Banco
Central.
As doações eleitorais foram para candidatos de vários
partidos. Receberam dinheiro desse grupo de 16 financiadores
relacionados a contas na Suíça as campanhas a presidente em 2014 de
Aécio Neves (PSDB) e de Marina Silva (PSB). O comitê de Dilma Rousseff
não ganhou recursos diretamente, mas o PT está na lista por meio de
diretórios da legenda.
Ao todo, os tucanos se saíram melhores na
coleta de fundos nesse ecossistema de doadores relacionados ao
SwissLeaks. Aécio Neves e outros candidatos do PSDB e diretórios do
partido receberam R$ 2,925 milhões. Já o PT e seus candidatos tiveram R$
1,505 milhão de doações desses financiadores em 2014.
Foram 12 os
partidos dos políticos que receberam doações dos clientes do HSBC. Além
de PSDB e PT, as outras siglas foram as seguintes: PMDB (R$ 578 mil);
PSC (R$ 254,1 mil); PTB (R$ 200 mil); Pros (R$ 120 mil); PSB (R$ 100
mil); PRB (R$ 50 mil); PPS (R$ 50 mil); DEM (R$ 30 mil); PV (R$ 10 mil) e
PSDC (R$ 2.272,50).
É difícil precisar quanto esses 16 doadores
de dinheiro para políticos guardavam na Suíça nos anos de 2006 e de
2007, período ao qual se referem as informações vazadas do HSBC de
Genebra. Muitas vezes, os dados mostram apenas o “maior valor
registrado”, mas isso não é o mesmo que o saldo total.
Em alguns
casos, como o do empresário Benjamin Steinbruch (que afirma ter
declarado todos os depósitos), aparecem vários números de contas e
cifras. Ele tem atribuído ao seu nome um valor máximo depositado de US$
207,3 milhões no HSBC de Genebra nos anos de 2006 e 2007.
Há
também situações em que o dinheiro está relacionado no HSBC apenas a um
fundo ou empresa. Mas os vazamentos de informações do banco incluíram
arquivos que relacionam fundos de investimentos e empresas em paraísos
fiscais aos seus verdadeiros donos. Dessa forma é possível saber a quem
pertence cada conta.
Há ainda clientes que são apenas
beneficiários de uma determinada conta –e não têm necessariamente acesso
total ao valor depositado. Chama a atenção também o fato de que a
maioria dos clientes do HSBC tem uma preferência por abrir empresas em
paraísos fiscais como Ilhas Virgens Britânicas ou Panamá. Com menos
frequência aparecem Uruguai e Bahamas.
Dos 16 clientes do HSBC
analisados neste cruzamento com doadores de campanha, 10 ainda apareciam
no banco com contas abertas e em operação quando os dados foram
vazados.
Na tabela abaixo, as respostas enviadas à reportagem pelas pessoas citadas e para quem eles doaram.
(clique para ampliar):
Participaram da apuração desta reportagem os jornalistas Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do “Globo''.
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