O Estado de S.Paulo
20 Março 2015 | 02h 04
Funcionários na ativa ou aposentados da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos enfrentam a pior das situações com seu fundo de
pensão, o Postalis: têm de utilizar boa parte dos salários ou dos
benefícios que recebem para cobrir o rombo decorrente de má gestão - com
indícios de fraude - dos recursos. Não é uma situação exclusiva do
Postalis, pois ela ocorre em outros fundos de empresas estatais cujas
aplicações não conseguem obter a remuneração prevista pelos atuários. A
diferença é que o caso do Postalis é exemplar por revelar os riscos a
que gestores de fundos submetem os participantes.
Com
patrimônio declarado de R$ 7,9 bilhões, o Postalis era o 7.º maior
fundo de pensão do País em setembro, conforme os últimos dados da
Revista da Abrapp (a associação das entidades de previdência fechada).
Com 120,1 mil funcionários ativos e 20,8 mil assistidos - ou seja, que
já recebem benefícios de aposentadoria -, o déficit do Postalis atingiu
R$ 5,6 bilhões em 2014, segundo o jornal Valor, e já superaria o total
de ativos.
A empresa e os empregados têm de cobrir o
déficit: a partir do mês que vem, haverá uma contribuição extra
correspondente a 25,98% do benefício, que poderá ser mantida até junho
de 2030, cobrada de empregados na ativa e de aposentados, além dos 3,94%
que já pagam. Salários e aposentadorias serão reduzidos, em valores
nominais. É o resultado da gestão temerária praticada por
administradores que compraram títulos de bancos liquidados, ações de
empresas do Grupo X e até de papéis de dívida da Argentina e da
Venezuela.
Do último relatório da secretaria de previdência
(Previc), responsável pela área de fundos de pensão, constam dezenas de
planos deficitários de entidades estatais, entre elas BNDES, CEF,
Eletrobrás, Petrobrás, CBTU, Infraero e Embrapa. Até o primeiro semestre
de 2014, o déficit atuarial dos fundos de pensão atingia R$ 27,6
bilhões.
Os problemas transcendem os aspectos éticos e a
gestão ruinosa - ou fraudulenta - praticada por administradores (no caso
do Postalis, a acusação de desvio de recursos é investigada na Operação
Lava Jato, como o foi no mensalão).
O maior dos fundos
(Previ, dos funcionários do Banco do Brasil), com patrimônio de R$ 172
bilhões, sofreu prejuízos por aplicar maciçamente em ações, inclusive da
Petrobrás e da Vale, cujas cotações caíram. A Previ ainda é
superavitária, mas sua administração foi substituída.
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