Na decisão em que manda abrir a primeira ação penal contra o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, o juiz federal Sérgio Moro destacou quatro contratos da estatal petrolífera por meio dos quais o pagamento de propinas chegou a R$ 136,1 milhões --parte desse montante caiu no caixa do PT em forma de 'doação eleitoral', segundo a força tarefa da Operação Lava Jato.
Vaccari, Duque e outros 25 acusados pela
Procuradoria da República agora são réus pelos crimes de corrupção e
lavagem de dinheiro. O engenheiro Adir Assad, apontado como laranja da
organização, está entre os novos réus da Lava Jato.
No despacho,
Moro descreve como foi feito o repasse da cota de propina da Diretoria
de Serviços, no contrato da Repar. Parte foi paga em espécie e outra
parte, em depósitos no exterior. "Parte da propina da Diretoria de
Serviços foi direcionada a João Vaccari Neto, tesoureiro do Partido dos
Trabalhadores, o que foi feito na forma de doações registradas perante a
Justiça Eleitoral."
Nessa operação, teriam atuado como
intermediadores Adir Assad, Mario Frederico Góes, pagador de propinas, e
Julio Gerin Camargo, lobista de empreiteira e um dos delatores da Lava
Jato. "Para alguns repasses, no montante de R$ 38.402.541,40, foi
utilizado grupo criminoso dirigido por Adir Assad."
Doações eleitorais
Amparado na denúncia do Ministério Público Federal, o juiz Sérgio Moro,
que conduz todas as ações da Lava Jato, acentua que em um dos contratos
"quantia substancial da propina", R$ 4,26 milhões, foi repassada, entre
23 de outubro de 2008 a 8 de março de 2012, "como doações eleitorais
registradas ao Partido dos Trabalhadores - PT".
As doações foram
feitas pelas empresas controladas por Augusto Mendonça, um dos
delatores da Lava Jato, e pelas empresas PEM, Projetec e SOG (Setal Óleo
e Gás).
A investigação revela que nas obras da Repar (Refinaria
Presidente Getúlio Vargas, no Paraná) o contrato foi celebrado ao preço
de R$ 2,25 bilhões. Aditivos elevaram o custo em mais R$ 569,16
milhões. A propina foi dividida entre as diretorias de Serviços,
controlada por Renato Duque, elo do PT na estatal petrolífera, e de
Abastecimento, então sob comando de Paulo Roberto Costa. Neste caso a
propina bateu em R$ 84,64 milhões.
A propina teria sido
repassada mediante celebração de contratos simulados com as empresas
Legend Engenheiros Associados, a Power To Ten Engenharia Ltda., a Rock
Star Marketing Ltda., a Soterra Terraplanagem e Locação de Equipamentos,
a SM Terraplanagem Ltda. e a JSM Engenharia e Terraplanagem.
Segundo a denúncia, essas empresas foram indicadas a Augusto Mendonça
por Dario Teixeira e Sueli Mavali. "Dario e Sueli, em realidade Sueli
Maria Branco, já falecida, faziam parte, juntamente com Sonia Mariza
Branco, de grupo dirigido por Adir Assad, que atuou no caso como
intermediador financeiro da propina e da lavagem de dinheiro".
"O grupo dirigido por Adir Assad encarregou-se então de realizar os
repasses à Diretoria de Serviços mediante pagamentos em espécie e
remessas ao exterior, entre março de 2009 a março de 2012?, ressalta o
juiz.
Nas obras da Replan (Refinaria de Paulínia, interior de
São Paulo), o contrato ficou em R$ 696,61 milhões, acrescidos de R$
254,25 milhões em aditamentos. A propina para a Serviços chegou a R$
19,02 milhões, equivalentes a 2% do contrato. Outros R$ 9,46 milhões
foram destinados à Abastecimento.
O terceiro empreendimento da
Petrobras , Gasoduto Pilar-Ipojuca, foi orçado em R$ 430 milhões, mais
R$ 139,82 milhões por três aditivos. A propina, aqui, foi de R$ 11,39
milhões, exclusivamente para a Serviços.
O quarto contrato sob
suspeita foi o GLP Duto Urucu-Coari, no Amazonas, celebrado ao preço de
R$ 342,59 milhões e mais R$ 240,89 milhões em aditamentos. Neste caso a
propina chegou a 11,55 milhões apenas para a Diretoria de Serviços.
Alto escalão
Em sua decisão, o magistrado anota que para permitir o funcionamento do
cartel, as empreiteiras corromperam diversos empregados do alto escalão
da Petrobras, entre eles os ex-diretores Paulo Roberto Costa
(Abastecimento) e Renato de Souza Duque (Serviços) e o gerente executivo
Pedro Barusco (braço direito de Duque).
"Os empregados
públicos, entre eles os ex-diretores, tinham o papel relevante de não
turbar o funcionamento do cartel e ainda de tomar as providências para
que a empresa definida pelo 'Clube' de empreiteiras para vencer a
licitação fosse de fato escolhida para o contrato", ressalta o
magistrado.
"Para viabilizar o esquema criminoso, valores
obtidos com os crimes de cartel e licitatórios foram submetidos a
lavagem de dinheiro por Alberto Youssef (doleiro e personagem central do
esquema de corrupção na Petrobras) e por outros profissionais da
lavagem, para posterior pagamento aos empregados de alto escalão da
Petrobras."
O juiz anota que "porcentagem de cada contrato das
empreiteiras com a Petrobras era destinada ao pagamento de propina aos
empregados de alto escalão".
No despacho, Moro descreve como foi
feito o repasse da cota de propina da Diretoria de Serviços, no
contrato da Repar. Parte foi paga em espécie e outra parte, em depósitos
no exterior.
"Parte da propina da Diretoria de Serviços foi
direcionada a João Vaccari Neto, tesoureiro do Partido dos
Trabalhadores, o que foi feito na forma de doações registradas perante a
Justiça Eleitoral. Teriam atuado como intermediadores Adir Assad, Mario
Frederico Goes e Julio Gerin Camargo", diz o juiz federal.
"Para alguns repasses, no montante de R$ 38.402.541,40, foi utilizado grupo criminoso dirigido por Adir Assad.
Defesa
A Secretaria de Finanças do Partido dos Trabalhadores divulgou nota
negando que o secretário João Vaccari Neto tenha participado de esquema
para recebimento de propina ou de recursos de origem ilegal destinados
ao PT.
"Ressaltamos que o secretário Vaccari não ocupava o cargo
de tesoureiro do PT no período citado pelos procuradores na ação aceita
pela Justiça, uma vez que ele assumiu essa posição apenas em fevereiro
de 2010".
Ampliar
17.mar.2015
- Ex-diretor da Área Serviços e Engenharia da Petrobras Renato Duque,
chega ao Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba (PR), onde realizou
exame de corpo de delito nesta terça-feira (17). Ele foi detido na 10ª
fase da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na
estatal Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo
UOL
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