Um documento entregue a investigadores holandeses fortalece o depoimento
do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco de que a campanha da
presidente Dilma Rousseff em 2010 recebeu US$ 300 mil da empresa SBM
Offshore, acusada de pagar propina para obter contratos no Brasil.
No dia 7 de setembro de 2010, a menos de um mês do primeiro turno
eleitoral, a SBM, com sede na Holanda, assinou um "adendo" de duas
páginas ao contrato que mantinha desde 1999 com o brasileiro Júlio
Faerman, então representante da firma no país.
Ele é apontado como distribuidor de propinas em troca de vantagem na Petrobras.
Esse aditivo, entregue pela SBM ao Ministério Público holandês, estipula
a parcela única de US$ 311,5 mil a ser paga à Faercom Energia Ltda,
empresa de Faerman, que assina como diretor (acesse o documento).
Segundo os papéis, o valor se refere a "certos serviços adicionais"
relacionados ao projeto da plataforma da Petrobras no campo de
Cachalote, no litoral sul do Espírito Santo, tocado pela holandesa.
A SBM informou às autoridades que transferiu o dinheiro no dia 5 de
novembro daquele ano para uma conta no banco Safra, na Suíça, em nome da
empresa Bien Faire, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso
fiscal.
A companhia é uma das seis controladas por Faerman em paraísos fiscais e
que foram usadas para operações de repasse de propina a funcionários da
Petrobras, segundo investigações internas da SBM e de autoridades
holandesas.
A SBM Offshore diz ter pago US$ 139 milhões a Faerman pelos serviços
prestados até o ano de 2012. Ao todo, os contratos da empresa, ligados a
oito plataformas da Petrobras, somam US$ 27 bilhões.
O lobista recebia de 3% a 10% de comissão da SBM em cima dos contratos.
A CGU (Controladoria-Geral da União) e o TCU (Tribunal de Contas da
União) também abriram apuração e encontraram indícios de
irregularidades.
ESQUEMA
Em novembro do ano passado, a SBM fez acordo com a Justiça holandesa
para pagar US$ 240 milhões como punição por "casos de propina" em
Angola, Brasil e Guiné Equatorial, no que é considerado o maior
escândalo de corrupção da história da Holanda.
Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras, confessou ter
recebido recursos do esquema. Disse ter começado a levar vantagens
financeiras entre 1997 e 1998, mas que a prática foi
"institucionalizada" entre 2003 e 2004.
Na delação ao Ministério Público, Barusco afirmou que o ex-diretor
Renato Duque "solicitou ao representante da SBM, Julio Faerman, a
quantia de US$ 300 mil a título de reforço de campanha durante as
eleições de 2010".
Na terça-feira (10), o ex-gerente deu a mesma versão à CPI da Petrobras:
"Em 2010, foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha, mas não foi
dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei (...) para o
Vaccari."
Segundo o ex-gerente, o PT recebeu de US$ 150 a US$ 200 milhões em
propina destinada à diretoria de Serviços, no período em que estava sob o
comando de Renato Duque.
O Ministério Público Federal já repatriou US$ 59 milhões (R$ 182
milhões) de contas mantidas por Barusco na Suíça, como parte do acordo
de delação premiada.
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