Senadores e líderes partidários repercutiram nesta segunda-feira (16)
as manifestações que ocorreram em todo o país no último domingo (15),
contra o governo e a corrupção. Em comum, as análises levam à conclusão
de que há insatisfação generalizada da sociedade com a classe política
como um todo, uma vez que os manifestantes não permitiram a participação
de nenhuma representação partidária.
O líder do PT, senador
Humberto Costa (PE), avaliou que os protestos não foram promovidos
apenas por pessoas que não votaram na presidente Dilma Rousseff, mas
também por parte de seus eleitores que estão insatisfeitos. Para ele, no
entanto, o governo não é o único foco de insatisfações. "Eu acho que o
que está em jogo não é apenas a questão do governo Dilma ou do Partido
dos Trabalhadores, mas é a política no Brasil de modo geral, a
necessidade de mudança da cultura política que nós temos. E eu acredito
que isso só se vai fazer por intermédio de uma reforma política. Temos
que estar dipostos, preparados e sermos urgentes nas ações nesse
sentido", disse.
Costa também reconheceu a necessidade de que
seu partido apresente novas propostas e faça uma reflexão sobre as
críticas que vem recebendo. "Eu diria que o PT está vivendo um momento
de dificuldade, e ele precisa reagir, e começou a reagir também com sua
militância, mas essa reação precisa ter uma intensidade maior, inclusive
dentro do partido. Ou seja, o PT precisa passar por um processo de
autorenovação, precisa mudar e fazer com que a cultura interna do
partido se altere também", analisou.
Para o líder, o partido
conseguiu implementar nos últimos 12 anos um conjunto programático que
incluiu crescimento com distribuição de renda, geração de empregos e
melhoria dos salários. Agora será necessário apresentar "uma nova
utopia", segundo ele. "Temos que avançar agora para apresentar uma nova
utopia, um novo manifesto do partido, uma proposta de funcionamento
interno do partido, que abra as portas para a sociedade, que não
privilegie as chamadas tendências, mas privilegie o contato com os
movimentos sociais e com uma nova postura eleitoral também",
acrescentou.
Para o presidente nacional do DEM, senador José
Agripino Maia (RN), as manifestações de ontem refletiram insatisfação
com a classe política, agravada pela percepção de aumento dos casos de
corrupção. "O brasileiro está insatisfeito com o governo, insatisfeito
com a classe política, insatisfeito com a atuação da classe política e,
principalmente, com a corrupção, que está endêmica e é, na percepção
popular, uma coisa consentida pelo governo do PT nos últimos anos. Isso
faz com que a classe política como um todo precise refletir, mas
principalmente o governo", avaliou.
O oposicionista criticou
duramente a resposta apresentada pelo governo no primeiro momento após
as manifestações. Para ele, os ministros da Justiça, José Eduardo
Cardozo, e da Secretaria-Geral da Presidência da República, Miguel
Rossetto, escalados para falar em nome do governo, ontem à noite,
apresentaram posições divergentes, que se mostraram sem credibilidade.
"O governo não tinha o direito de, depois dos eventos, colocar dois
ministros com posições diametralmente opostas. Um deles pregando
democracia e respeito às facções e o outro dizendo claramente que o
movimento era só de pessoas que não tinham votado em Dilma. Isso tira a
credibilidade de qualquer iniciativa que o governo venha a querer tomar e
que satisfaça aquilo que é a exigência do povo brasileiro. Ou Dilma
acorda ou o povo vai acordar Dilma", ressaltou.
A tribuna do
Senado também foi dominada por discursos de análise das manifestações. O
senador José Antonio Reguffe (PDT-DF) disse que os manifestantes não
devem ser "desqualificados", e sim ouvidos. "É muito importante que a
presidente faça uma reflexão. A presidenta está defendendo, por exemplo,
agora, um ajuste fiscal – de que já falei nesta tribuna – que pune o
contribuinte. Antes de punir o contribuinte, o ajuste fiscal deveria ser
reduzindo a despesa", disse.
O senador Ricardo Ferraço
(PMDB-ES) também pediu que a presidenta Dilma Rousseff receba os
protestos com "humildade e respeito". "Os indicativos da rua são na
clara direção de que a presidenta precisa governar o país com base em
nossa realidade e não de olho nas próximas eleições, como tem sido a
marca dos governos que se sucedem. As manifestações pediram ao governo e
à presidenta que esqueçam o projeto de poder e coloquem o pé num
projeto de nação, e reconhecer os equívocos do 'Dilma 1' [primeiro
mandato] é o primeiro passo para essa possibilidade de entendimento",
disse ele.
No mesmo sentido, o senador Waldemir Moka (PMDB-MS)
também cobrou do governo que dê explicações e dialogue mais com a
sociedade e o Congresso. "Se o Governo não tiver a capacidade de admitir
os erros, essas manifestações só vão aumentar, eu tenho isso comigo",
afirmou. Para ele, as políticas que o governo precisa implementar, como o
ajuste fiscal, estão diretamente relacionadas com o combate à
corrupção. Na avaliação do senador, "uma coisa puxa outra", e não será
possível convencer as pessoas a fazerem sacrifícios se elas não virem
exemplos de austeridade nas lideranças políticas. "Quer dizer, nós
precisamos fazer isso. É preciso tratar essas coisas com seriedade
porque, senão, junto com essa crise vai o Congresso. E aí perde-se a
representatividade", alertou.
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