Em vídeo gravado pela PGR (Procuradoria Geral da República) no último
dia 11 de fevereiro no Rio de Janeiro, o ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto da Costa afirmou que o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) sabiam da
cartelização das empreiteiras na Petrobras e defendiam que elas
continuassem ganhando obras na estatal do petróleo.
"Qual era o interesse desses políticos? Que as empresas do cartel
ganhassem. Porque se elas ganhassem, revertia uma parte para eles. Outra
coisa que eu falei lá nos depoimentos, essas empresas do cartel não
trabalham só para a Petrobras. Essas empresas do cartel trabalham para
portos, aeroportos, hidrovias, ferrovias. O interesse deles é tudo, não é
só Petrobras", disse Costa.
"[...] A minha área de abastecimento era a ponta do iceberg", afirmou o
ex-diretor, que fechou acordo de delação premiada com o Ministério
Público e a Polícia Federal. Ele contou que mantinha reuniões mensais
com os senadores Renan e Jucá. Esses encontros teriam ocorrido nas casas
e nos gabinetes dos dois parlamentares em Brasília.
Um dos procuradores responsáveis pelo depoimento quis saber "qual seria a
contrapartida" dos senadores Renan e Jucá para o apoio que deram para
que Costa permanecesse em seu cargo na Petrobras, no primeiro trimestre
de 2007. "Ajudar no que fosse possível o partido", respondeu o delator.
"Ajudar o partido, igual a abordagem do PP?", inquiriu o procurador.
"Mesma coisa", respondeu Costa.
No depoimento, porém, Costa disse que não recebeu um pedido direto dos parlamentares por recursos desviados da Petrobras.
Costa contou que foi indicado ao cargo pelo PP (Partido Progressista),
mas o apoio do PMDB surgiu depois que ele ficou entre a vida e a morte
em dezembro de 2006, após ter contraído malária, acrescida a uma crise
de pneumonia, e três gerentes da Petrobras começarem a cobiçar o seu
cargo.
O ex-diretor começou a sentir os sintomas da malária logo após voltar de
uma viagem à Índia, num voo entre Brasília e o Rio. Ele chegou à sede
da Petrobras "tremendo, febril" e de lá foi encaminhado ao hospital
Barra d'Or.
"Isso foi numa quinta-feira. [Na] sexta-feira, final do dia, eu tinha
entrado em coma. No sábado, a Petrobras mandou chamar um dos maiores
infectologistas do Brasil, que é lá de São Paulo, hoje é secretário de
Estado de São Paulo, David Uip. Ele me examinou, eu estava em coma,
entubado, ele me examinou na CTI, chamou os médicos e depois chamou
minha mulher de lado e falou: 'Olha, a chance de ele sobreviver é de
5%'. Falou na lata para a minha mulher. 'Cinco por cento. Só se Deus
quiser. Porque a medicação que ele está tomando é correta, está tudo
certo, mas a chance dele é mínima'."
Costa disse que ficou cerca de três meses fora do trabalho. Nesse
período, os três gerentes –dentre os quais Venina Velosa e, mais
fortemente, Alan Kardec– "fizeram 'n' contatos políticos", segundo o
então diretor.
"Porque se não for politicamente, não chega lá. Politicamente, para
ficar no meu lugar", contou Costa. Nesse momento, disse o ex-diretor,
uma parte do PMDB apareceu para lhe ajudar, com conhecimento do PP.
"Nesse meio tempo, o PMDB do Senado resolveu me apoiar. Porque tem o
PMDB do Senado e o da Câmara", explicou Costa.
O primeiro contato, segundo o ex-diretor, foi por meio do deputado
federal Aníbal Gomes (PMDB-CE), que lhe procurou na Petrobras, dizendo
falar em nome do senador Renan. A partir daí, Costa disse ter se reunido
inúmeras vezes com os parlamentares.
"Então eu tive muitos contatos com Romero Jucá e muitos contatos com
Renan Calheiros. Foram na casa do senador Renan e muitos contatos no
gabinete, tanto dele quanto do Romero. Lá no Senado", rememorou o
ex-diretor.
Costa disse que a ação do PMDB ocorreu para que fosse contida a expansão
do PT nos cargos mais altos da Petrobras. "Porque se eles me tirassem
naquele momento [do Abastecimento], ia assumir outro PT. Aí era PT na
Gás e Energia, PT na Exploração e Produção, PT na Área de Serviço e PT
na área de Abastecimento. Ia ficar PT de ponta a ponta. E obviamente que
o PMDB também não queria isso", disse Costa.
OUTRO LADO
Em nota divulgada no último dia 6, quando o ministro Teori Zavascki,
relator dos casos derivados da Operação Lava Jato no STF (Supremo
Tribunal Federal), mandou abrir inquérito para investigá-lo, Renan
Calheiros negou qualquer envolvimento nas irregularidades investigadas
pela força-tarefa da PF e do Ministério Público Federal.
"Nas democracias, todos –especialmente os homens públicos– estão
sujeitos a questionamentos, justos ou injustos. A diferença está nas
respostas. Existem os que têm o que dizer e aqueles que não. Quanto a
mim, darei todas as explicações à luz do dia e prestarei as informações
que a Justiça desejar. Minhas relações junto ao poder público nunca
ultrapassaram os limites institucionais. Jamais mandei, credenciei ou
autorizei o deputado Aníbal Gomes, ou qualquer outro, a falar em meu
nome, em qualquer lugar. O próprio deputado já negou tal imputação em
duas oportunidades", afirmou Renan, na nota.
Procurado pela Folha, o deputado Aníbal disse que primeiro
precisaria ter acesso a todos os documentos no STF para depois se
manifestar. No início de março, em entrevista à Folha antes do
pedido de inquérito protocolado pelo Ministério Público no STF, Aníbal
disse que conhecia Paulo Costa, mas negou qualquer irregularidade.
Jucá, que ocupa o cargo de segundo vice-presidente do Senado, disse à
imprensa no último dia 7 de março que primeiro analisaria todos os dados
do inquérito no STF para depois se manifestar.
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