Um dos empreiteiros acusados de participar do esquema de corrupção descoberto na Petrobras afirmou a investigadores da Operação Lava Jato que pagamentos feitos à consultoria do ex-ministro José Dirceu eram parte da propina cobrada pelo esquema.
Atualmente preso em Curitiba, o presidente da UTC Engenharia, Ricardo
Pessoa, disse que os pagamentos a Dirceu eram descontados das comissões
que sua empresa devia ao esquema, que correspondiam a 2% do valor de
seus contratos na Petrobras.
Um representante de outra empreiteira sob suspeita, a Camargo Corrêa,
afirmou aos investigadores que a empresa decidiu contratar os serviços
de Dirceu por temer que uma recusa prejudicasse seus negócios com a
Petrobras.
Pedro Ladeira - 04.nov.2014/Folhapress | ||
José Dirceu deixa a Vara de Execuções Penais em Brasília |
Os relatos dos empreiteiros, feitos durante reuniões com investigadores
da Operação Lava Jato e não em depoimentos formais, chamaram atenção por
revelar detalhes sobre a maneira como o ex-ministro se aproximou dos
fornecedores da Petrobras.
Homem forte do início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, Dirceu caiu em meio ao escândalo do mensalão e foi condenado a
dez anos de prisão no julgamento do caso. Ele hoje cumpre pena de prisão
domiciliar, em Brasília.
Detalhes sobre os negócios do ex-ministro como consultor foram revelados
na semana passada, quando o juiz Sergio Moro, que conduz os processos
da Lava Jato na Justiça Federal, divulgou um relatório da Receita Federal sobre a consultoria de Dirceu.
O ex-ministro ganhou como consultor R$ 29,2 milhões entre 2006 e 2013.
Cerca de um terço do dinheiro entrou na sua conta no período em que ele
estava sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal por seu envolvimento
com o mensalão, entre 2012 e 2013.
Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram R$ 9,5 milhões pelos
serviços da consultoria de Dirceu, num período em que o diretor de
Serviços da Petrobras era Renato Duque, apontado como afilhado político
de Dirceu —o que ele nega— e preso em Curitiba há uma semana.
Os empreiteiros ouvidos pelos investigadores da Lava Jato disseram que
Dirceu procurava empresas que tinham contratos na Petrobras para
oferecer seus serviços sem fazer menção explícita às comissões do
esquema na estatal.
Segundo detalhou Pessoa, após a contratação de Dirceu, o tesoureiro do
PT, João Vaccari Neto, autorizava que os valores pagos à consultoria do
ex-ministro fossem descontados da propina devida pelas empresas que
tinham negócios com a diretoria de Serviços.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Os executivos contaram que Dirceu chegou a fazer alguns contatos em
favor das empreiteiras, mas disseram considerar supervalorizados os
serviços pelos quais pagaram. O ex-ministro afirma que sua consultoria
prestou serviços legalmente e nega que tivesse conhecimento do esquema
de corrupção na Petrobras.
Ricardo Pessoa, o presidente da UTC, negociou com os procuradores da
Lava Jato um acordo para colaborar com as investigações em troca de
redução da sua pena, mas não conseguiu chegar a um entendimento com
eles.
Dois executivos da Camargo Corrêa presos em Curitiba, o presidente da
empreiteira, Dalton Avancini, e o vice-presidente da área de finanças,
Eduardo Leite, conseguiram um acordo com os procuradores e já prestaram
vários depoimentos formalmente.
Os investigadores da Lava Jato acreditam ter localizado um vínculo entre
Dirceu e o esquema de corrupção ao encontrar entre os clientes do
ex-ministro a Jamp Engenharia, do consultor Milton Pascowitch, apontado
como um dos operadores que teria distribuído propina para o PT.
Colaboraram GRACILIANO ROCHA e LUCAS FERRAZ, de São Paulo
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