Vídeo com entrevista concedida a rede Globo
Foi menos uma conversa, nome escolhido para o programa, e mais uma apresentação solo.
Cada vez mais desenvolta ao longo da entrevista, a ministra Cármen Lúcia
achou por bem, a certa altura, se desculpar com Pedro Bial. "Não estou
te deixando falar", disse ela, usando frase que talvez nunca tenha sido
ouvida por Jô Soares quando comandava o programa.
"Conversa com Bial" é, no cenário, na banda e até nos cabelos brancos do
apresentador, uma continuação do anterior —que chegou perto de
completar três décadas entre SBT e Globo.
A maior diferença, pelo que indica a estreia e pelo que já se percebia
numa produção semelhante que Bial manteve na TV paga, é que o programa
não poderá depender do apresentador como "showman".
Bial é simpático, deixa o entrevistado à vontade, consegue rir, fazer
escada para o outro, mas se confunde nas perguntas, que tenta burilar
como se estivesse escrevendo.
Na mesma linha, seu monólogo inicial não conseguiu ir além de uma
introdução apressada e carregada de adjetivos sobre a entrevistada da
noite.
Era o programa de estreia, ou seja, Bial deve melhorar, é até inevitável
que melhore. Mas jamais será como Jô Soares ou seus concorrentes mais
jovens, que estavam no ar quase no mesmo horário, Fábio Porchat e Danilo
Gentili, e que se desenvolveram no palco.
"Conversa com Bial" vai depender do entrevistado. E a escolha de Cármen
Lúcia para a estreia, entre as inúmeras conversas gravadas, foi um
grande acerto —apesar de algum ruído anacrônico, como a menção a José
Dirceu, anterior à decisão de soltura.
Ela precisou de tempo para se soltar, escapar das perguntas
editorializadas que resultavam em conversa fiada, porque obviamente não
queria adiantar voto.
Naquele início, a sensação de diálogo travado se acentuava pela edição
excessiva, que acelerava e ao mesmo tempo tirava naturalidade. Aconteceu
algo semelhante com a entrada em cena da atriz Fernanda Torres e a
tentativa mal-sucedida de estabelecer um debate.
Quando isso tudo ficou para trás, a ministra roubou a cena, com tiradas
como a de que sua mãe a teria alertado que, entre mulher fácil e mulher
difícil, melhor ser difícil.
Usou recursos assim para, entre risadas desarmadas, defender direitos
das mulheres presas. Para apoiar democracia direta. Para apontar o dedo
contra o desemprego.
Será difícil encontrar entrevistados como ela, dia após dia, mas Bial e a
Globo têm outras cartas na manga para lançar, de redatores de mais
qualidade a comentaristas regulares e promissores, que ainda nem deram
as caras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O Blog Olhar de Coruja deseja ao novo Presidente Jair Messias Bolsonaro tenha grande êxito no comando do nosso País.