Nos últimos dias, PT e Planalto tentaram desqualificar manifestações
Entrevista de ministros após os atos mostra discurso desafinado
O governo da presidente Dilma Rousseff conseguiu errar antes e depois dos protestos deste domingo (15.mar.2015) em todo o país.
Nos
últimos dias e semanas, o PT e o Palácio do Planalto trabalharam para
tentar desqualificar previamente as marchas de protesto. Nas redes
sociais, simpatizantes dilmistas classificavam os manifestantes de
“elite branca”, “coxinhas”, “varanda gourmet” e “almofadinhas”. A
crítica mais benigna dos governistas era que haveria pouca gente ou que
apenas setores da classe média sairiam de casa no domingo.
A forte adesão de centenas de milhares de pessoas destruiu os argumentos petistas e do Planalto. Segundo o Datafolha, São Paulo teve a maior manifestação política (210 mil pessoas) desde as Diretas-Já, em 1984.
Passadas
as marchas, a presidente Dilma Rousseff escalou dois ministros para
falar com repórteres. Miguel Rossetto (Secretaria Geral da Presidência) e
José Eduardo Cardozo (Justiça) apareceram para a entrevista com camisas
sociais azuis, sem gravata, ternos desalinhados e semblantes de
derrotados. Nessas horas, imagem é quase tudo.
Mas o conteúdo
ainda foi mais desalentador para o governo. Um ministro (Cardozo)
começou com uma fala mais humilde falando em respeito à democracia. O
outro (Rossetto) começou classificando os manifestantes como eleitores
que votaram contra Dilma Rousseff em 2014. Disse também que “não é
legítimo o golpismo, a intolerância, o impeachment infundado que agride a
democracia”. Mas como o ministro Rossetto sabe que todos os que foram
às ruas queriam o impeachment e votaram contra Dilma?
Tudo somado,
Rossetto e Cardozo não trouxeram em suas falas nada que pudesse
minimizar o mau humor de brasileiros que estão protestando. Sem contar
as velhas desculpas do tipo “o Brasil só melhora depois de uma reforma
política”.
Para Cardozo, “a atual conjuntura aponta para uma
necessária mudança no nosso sistema político-eleitoral (…) é um sistema
anacrônico que constitui a porta de entrada principal para a corrupção
no país. Então, é preciso mudá-la por meio de uma ampla reforma
política”.
Ocorre que o governo federal é comandado pelo PT há 12
anos. Durante algum tempo, o presidente no poder (Lula) teve mais de 80%
de aprovação popular. Mesmo assim, a administração federal petista não
se sentiu compelida a promover uma reforma política. Dizer que agora
tudo depende de leis mais rígidas e de uma reforma política é uma
possível saída retórica. Mas a eficácia desse argumento é frágil.
Quem
conversa com os assessores de Dilma Rousseff sente que o problema no
momento parece ser a grande incapacidade do Palácio do Planalto de
reconhecer o que está se passando na sociedade. E, em seguida, ter
presença de espírito para fazer algum tipo de autocrítica para
reconquistar uma parte da confiança perdida entre os brasileiros.
O
país passa por um momento curioso do ponto de vista sociológico. A
demonstração de indignação se transformou quase numa forma de
relacionamento social. Os amigos vão ao restaurante, o garçom demora
para atender e em segundos alguém está falando alto: “É um absurdo. O
Brasil não dá mais. Nada funciona”. Pode-se gostar ou não dessa atitude,
mas cenas assim estão se tornando cada vez mais comuns.
O pior
para quem está no governo é não entender esse “zeitgeist”, esse espírito
do tempo que parece estar tomando conta de parte da sociedade
brasileira, sobretudo nos grandes centros urbanos.
As imagens da
TV mostraram desde cedo no domingo mais de uma dezena de cidades com
protestos de pessoas nas ruas. A TV Globo transmitiu vários flashes ao
vivo. As TVs de notícias 24h (GloboNews, BandNews e RecordNews) ficaram
quase 100% do tempo com imagens dos atos públicos.
País de
tradição abúlica, o Brasil tem poucos episódios de grandes passeatas.
Teve a direita em 1964. As Diretas-Já, em 1984/85. O impeachment de
Collor, em 1992. As jornadas de junho de 2013, que protestaram contra
quase tudo, principalmente contra a política tradicional.
Como se
observa na história, o Brasil às vezes passa 10 anos ou mais entre um
momento e outro de grandes protestos. Agora, essa distância parece estar
se estreitando. Menos de 2 anos depois das marchas de junho de 2013 há
um novo protesto generalizado. É um fato é raro.
O Brasil não é a Argentina ou outros países latinos nos quais é comum a população ir às ruas reclamar.
O
que se passou neste domingo –sem fazer juízo de valor sobre
determinadas propostas que apareciam nas faixas dos manifestantes– tem
grande relevância política.
Goste ou não dos manifestantes, o
governo Dilma às vezes demonstra não entender que a tessitura do grupo
que foi às ruas neste 15 de março é muito semelhante à das massas que
fizeram as Diretas-Já e o impeachment de Collor.
Sem uma reação
melhor do que a entrevista dos ministros Rossetto e Cardozo será difícil
a presidente Dilma se recuperar politicamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O Blog Olhar de Coruja deseja ao novo Presidente Jair Messias Bolsonaro tenha grande êxito no comando do nosso País.