Antes de colocar os pés na Câmara nesta quarta-feira (18), Cid Gomes,
ainda ministro da Educação, confidenciou a amigos: "eu não vou me
humilhar." Suas duras declarações diante de uma base congressual arredia
à presidente da República motivaram sua demissão relâmpago.
Entre o abandono da tumultuada sessão e o anúncio de sua demissão pelo
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decorreram menos de 30
minutos.
Já na condição de ex-ministro, Cid Gomes afirmou a jornalistas ao deixar
o Palácio do Planalto que a presidente Dilma enfrenta uma crise na
relação com o Legislativo justamente por sua atitude contra desvios
éticos. "E é isso que fragiliza sua relação com boa parte dos partidos,
que querem isso [corrupção]." A crítica de Cid tinha um endereço claro: o
PMDB.
Nos bastidores, a avaliação de integrantes do próprio governo é de que a
petista se rendeu ao ultimato do PMDB. Entre Cid e o partido, Dilma
ficou com a segunda opção.
Um de seus raros defensores públicos antes, durante e depois da campanha
presidencial, Cid Gomes deixou a Câmara ciente do término de sua
atuação na Esplanada.
À presidente explicou que jamais poderia recuar de sua opinião sobre
partidos e parlamentares, mas entendia que sua permanência causaria
constrangimento a Dilma. "Compreendo e lamento", respondeu a presidente.
Ao deixar o gabinete presidencial, Cid abraçou funcionários: "Estou
feliz, tranquilo". O mesmo foi dito a jornalistas que o aguardavam.
"Tem muito discurso de oposição, muita gente que fala em corrupção.
Parece uma coisa intrínseca ao governo, mas o que Dilma está fazendo é
exatamente limpar o governo de corrupção que aconteceu no passado. É
isso que ela está fazendo. É por isso que a gente vive uma crise."
Para o ex-ministro, foi Dilma quem demitiu da Petrobras os ex-diretores
que agora estão sob investigação na Operação Lava Jato, Paulo Roberto
Costa e Renato Duque.
Segundo Cid, a atual crise "é anterior" à presidente. "Ela, ao
contrário, como é séria, está limpando e não está permitindo isso",
afirmou. Cid Gomes foi parar no Ministério da Educação por insistência
de Dilma e só aceitou após receber a terceira sondagem.
Na saída do Planalto, o ex-ministro voltou a criticar a composição do
Congresso. "Considero o parlamento fundamental para a democracia. O
lamentável é a sua composição, e a forma de se relacionar com o poder.
Virou o antipoder. Ou tomam parte do poder, ou apostam no quanto pior,
melhor, para assumir o poder e muitas vezes fazer as mesmas coisas que
se está fazendo, ou pior."
Com a saída de Cid, o Ministério da Educação será comandado
interinamente por Luiz Cláudio Costa, atual secretário-executivo da
pasta. O PT já avisou a integrantes do governo que vai reivindicar o
controle do ministério.
"Lamento pela educação do Brasil", disse Cid após entregar o cargo.
"Lamento porque tem muito o que fazer, e eu estava muito entusiasmado.
Já tinha visitado seis Estados em dois meses e pouco. Iniciamos projetos
que são importantes para melhorar a educação pública no Brasil."
Editoria de Arte/Folhapress | ||
FOLHA
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