Protestos de março de 2015
Na solidão do Palácio da Alvorada, Dilma Rousseff passa por uma
metamorfose clara para seus interlocutores desde que sua Presidência
entrou em aguda crise política e econômica, paradoxalmente após a
reeleição em 26 de outubro de 2014.
"Roubaram a presidente", define um ministro próximo. Saiu de cena a
censora das tabelas eletrônicas, que reclamava até da cor escolhida para
o "layout" da apresentação.
Recentemente, ela simplesmente rejeitou
examinar um arquivo de Power Point.
Abanando a mão sem paciência, ela disse: "Isso não é comigo", para
espanto dos presentes, acostumados ao apego a detalhes técnicos e
alíneas de projetos de lei.
A tentação à disposição do observador distante é a de ver nisso uma
capitulação emocional à crise que engolfou o governo. Itens não faltam:
Operação Lava Jato e crise na Petrobras, recessão econômica soando suas
trombetas, descontrole na articulação com um Congresso arredio.
Mas, surpreendentemente, os próximos de Dilma veem na presidente uma
fase nova –mais leve, não só pelos 13 quilos perdidos por dieta, mas
também no humor. As proverbiais broncas e os palavrões foram
substituídos, recentemente, por relatos de amabilidades.
Dilma até aposentou, ao menos por ora, os dois remédios de controle de
pressão que costumava usar. Para quem a conhece, essa é uma defesa
natural em momentos de dificuldades; nunca é demais lembrar que a
presidente passou anos presa e torturada pela ditadura de 1964.
Este domingo (15) irá novamente testá-la, com protestos previstos em todo o país contra seu governo. Durante a semana, quando foi alvo de um panelaço inesperado
em reação a sua fala na TV e foi vaiada em evento na capital paulista,
Dilma desabafou sem emoção visível. "É, vamos ter de brigar muito. Mas
só não está morto quem peleia", disse, em gauchês, a próximos.
A Dilma durona, que levava auxiliares ao tratamento médico, deu lugar a
uma presidente alvo de especulações em seu círculo restrito. O que teria
acontecido?
Como tudo em Brasília, a questão alçou uma bolsa de apostas no registro da fofoca.
Uns atribuem a metamorfose à dieta Ravenna. Outros arriscam falar em florais de Bach, panaceia parente da homeopatia.
Mas foi o ex-presidente Lula quem vocalizou o boato mais frequente. "Mulher, quando faz regime assim, é porque tem namorado".
Segundo toda a corte mais íntima de Dilma, seu mentor está errado. Fora
do trabalho, dizem, ela está cercada de livros, seriados de TV e
superstições ligadas ao Alvorada.
Jorge Araujo - 10.mar.2015/Folhapress | ||
Dilma no Salão Internacional da Construção, na terça (10) |
AUTONOMIA
Para seus auxiliares Dilma está solitária num momento de crise. Vez ou
outra, ela os convoca para despachos no Alvorada no fim do dia, só para
emendar um convite para jantar na hora em que eles estão prontos para ir
embora.
Isso é um traço recente, pós-eleição. Dilma está mais reflexiva, dizem.
Dias depois de uma conversa com Lula no fim do ano, ela desapareceu do
mapa. O relato do diálogo dá conta de que o ex-presidente foi direto: "O
que aprendemos com esta eleição?". Sem dar chance de resposta, ele
mesmo respondeu: "que precisamos mudar".
A partir dali, criador e criatura pararam de se falar. Para os lulistas,
sempre ávidos a exaltar a inteligência política do chefe, foi o começo
dos problemas que hoje assolam a segunda gestão Dilma.
A principal mudança, a da política econômica –enterrada após anos de
expansionismo fiscal na escolha de Joaquim Levy–, ocorreu sem consulta
direta ao ladrilho.
Aloizio Mercadante, o chefe da Casa Civil, tornou-se o único ministro
com acesso ao gabinete presidencial naquele momento. Ele esteve com
Dilma na definição do primeiro escalão, excruciante processo que acabou
só no dia 31 de dezembro, véspera da posse do segundo mandato.
À distância, Lula confidenciou a amigos: "Esse ministério não aguenta um ano".
Alexandre Tombini, à frente do Banco Central, foi o portador dos números
da realidade para Dilma. No fim da campanha eleitoral, ele passou a ela
dados objetivos sobre a debacle fiscal que o país vivia, tornando o
cavalo de pau na economia inevitável.
Dilma deu o primeiro sinal dele na entrevista a jornais que concedeu
após a reeleição, quando falou em "fazer a lição de casa". Mesmo isso
não previa a queda na arrecadação, que acelerou a ideia de um ajuste
mais amargo.
A escolha de Levy entra neste contexto. Ele realmente tem carta branca,
e, como provou a pressão para a não derrubada de um veto presidencial
que garante uns R$ 5 bilhões a mais para o governo, com a sua ameaça de
demissão, o clima é de Fla-Flu.
Mercadante ganhou influência. A presidente não saiu dos palácios nem
conversou com interlocutores externos –exceto o ministro, o que lhe
garantiu um alvo na testa dos fofoqueiros.
Somada à propalada soberba no trato, a ira de petistas e aliados acabou
caindo sobre Mercadante pelo isolamento de Dilma. Ele é responsabilizado
por medidas desastradas, como a insistência em tentar derrotar Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) na disputa pela Presidência da Câmara –o candidato do PT
não chegou nem perto.
Mercadante tem uma resposta direta: cita o quase inimputável papa
Francisco. "Temos de abolir a intriga e a fofoca na Cúria", equiparando a
Esplanada ao órgão diretor do Vaticano. Rejeita o de
"primeiro-ministro", lembrando que "o único capaz de roubar a presidente
da função é seu netinho".
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