A lista de empreiteiras que fizeram pagamentos à empresa de consultoria
do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) e o depoimento do
vice-presidente da empreiteira Engevix Gerson Almada sobre a relação da
construtora com o petista reforçaram a suspeita de que Dirceu tenha
envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras, avalia o
procurador da República Carlos Fernando Lima, coordenador da força
tarefa da Operação Lava Jato.
A relação de companhias que pagaram à JD Consultoria, empresa de Dirceu e do irmão dele, foi elaborada pela Receita Federal e tornada pública pelo juiz federal Sergio Moro nesta terça (17).
Segundo Lima, é suspeito o fato de Dirceu prestar assessoria a sete
empreiteiras sob investigação na Lava Jato no período entre 2006 e 2013.
"Causa estranheza uma empresa prestar consultoria para companhias de um
mesmo setor da economia em um mesmo período de tempo. Se ocorreu,
poderíamos dizer que a empresa JD Consultoria foi uma representante
infiel", disse o procurador da República.
A relação também traz dois pagamentos à JD feito pela empresa de
consultoria Jamp, de propriedade de Milton Pascowitch, que foi apontado
como um dos operadores de propina do esquema de corrupção pelo
ex-diretor de engenharia da Petrobras Pedro Barusco.
"Esse é um vínculo bastante difícil de ser explicado", comentou Lima sobre a ligação entre as empresas de Dirceu e Pascowitch.
O procurador da República também acompanhou na terça o depoimento do
vice-presidente da Engevix Gerson Almada à Justiça Federal e considerou
que o testemunho "trouxe uma série de inconsistências" sobre a ligação
da construtora com Dirceu.
Almada afirmou ao juiz federal Sergio Moro que contratou Dirceu para
representar a Engevix no exterior após o petista colocar-se "à
disposição".
Uma das contradições apontadas pelo procurador foi o fato de Almada ter
dito que a Engevix assinou contrato com a JD Assessoria por
aproximadamente um ano mas a relação da Receita Federal apontar
pagamentos da empreiteira a Dirceu em quatro anos consecutivos (2008,
2009, 2010 e 2011). Os depósitos somam R$1,1 milhão, segundo o relatório
da Receita.
No testemunho, Almada detalhou três reuniões com Dirceu, sempre
intermediadas por Pascowitch, amigo do ex-ministro. Segundo o executivo,
eles fecharam contrato para que o petista representasse a Engevix no
Peru e em Cuba. Almada elogia os contatos de Dirceu: "Fala com todo o
mundo, bota você nas melhores coisas".
"Após a saída do ministro José Dirceu [do governo, em 2005], nós tivemos
uma primeira reunião, em que ele colocou-se à disposição para fazer um
trabalho junto à empresa no exterior", relatou Almada. "Basicamente
voltado a vendas da Engevix em toda a América Latina, Cuba e África, que
é onde ele tinha um capital humano de relacionamento muito forte"
O empresário disse que Dirceu nunca fez pedidos de doações eleitorais a
ele. Sobre as doações da Engevix a Zeca Dirceu (PT-PR), filho do
ex-ministro, o executivo afirmou que o pedido foi feito por Milton
Pascowitch.
OUTRO LADO
Em nota, a assessoria de Dirceu aponta que Almada confirmou em seu
depoimento que nunca conversou sobre Petrobras com o ex-ministro José
Dirceu nem nunca negociou doação política com o petista. Segundo a nota,
Almada afirmou ainda que o contrato com a JD tinha o objetivo de
prospectar negócios no Peru e em Cuba. O depoimento, portanto, corrobora
as declarações da JD ao contrário do que afirma o procurador, afirma a
assessoria.
"A empresa de consultoria do ex-ministro José Dirceu reafirma que todos
os serviços prestados para as construtoras não têm qualquer relação com
os contratos sob investigação na Petrobras. As construtoras investigadas
representam apenas 10% do total de clientes da consultoria. A JD também
prestou serviço para empresas de construção civil que não têm relação
com a Petrobras. A JD reitera que sempre assessorou seus clientes na
prospecção de negócios no exterior, conforme alguns clientes já
confirmaram após consulta da imprensa. Em nove anos, a JD atendeu cerca
60 clientes de quase 20 setores da economia", de acordo com a nota.
A assessoria afirma ainda que "o contrato com a Jamp é legal e foi
assinado em março de 2011 depois que o executivo Milton Pascowitch, que
trabalhou por 17 anos na Engevix, deixou a companhia e passou a
trabalhar como consultor para a construtora. O contrato da JD com a Jamp
teve o mesmo propósito: prospectar negócios para a Engevix no
exterior".
FOLHA
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