Brasília - Em meio à relação conturbada com o Congresso Nacional, o
governo vai ter que evitar outro conflito: a criação de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) dos fundos de pensão de estatais. Os
deputados Rubens Bueno (PPS-PR) e Carlos Sampaio (PSDB-SP) conseguiram
reunir 113 assinaturas, das 171 necessárias, para investigar indícios de
aplicação incorreta dos recursos e manipulação na gestão de fundos de
previdência complementar de funcionários de estatais e servidores
públicos.
O requerimento para a abertura da CPI dos fundos de
pensão pede que sejam esclarecidos os "prejuízos vultosos" dos planos
ocorridos entre 2003 e 2015. Estão na lista para serem investigadas a
Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica Federal), a Petros
(Petrobras), a Previ (Banco do Brasil) e o Postalis (Correios).
Na
edição desta segunda-feira, 23, o jornal O Estado de S.Paulo informou
que funcionários dos Correios tentam evitar, por meio de uma batalha
judicial e pela força das greves, que os participantes do Postalis
tenham uma redução de 25,98% em seus contracheques a partir de abril de
2015 pelo período de 15 anos e meio.
A conta é resultado
de um déficit atuarial de R$ 5,6 bilhões no Postalis - comandado por PT e
PMDB - provocado por investimentos suspeitos, pouco rentáveis ou que
não tiveram ainda rendimento passado ao fundo. Também sob influência dos
dois partidos políticos, a Funcef e a Petros contabilizam prejuízos
bilionários.
O deputado Rubens Bueno, líder do PPS na
Câmara, disse que os funcionários dos Correios do País todo preparam
vinda a Brasília nesta semana para pressionar os deputados a assinarem o
requerimento da CPI dos fundos de pensão.
Ele afirmou
que, atualmente, o limite de CPIs da Câmara está esgotado, mas que
haverá espaço, daqui a quatro ou cinco meses, prazo para a conclusão dos
trabalhos, para a criação dessa comissão para apurar as irregularidades
nos fundos de pensão de estatais. Entre as CPIs abertas estão a da
Petrobras, de morte e desaparecimento de jovens, sistema carcerário
brasileiro e máfia das próteses.
"O aparelhamento político
dos fundos de previdência complementar, que têm funcionários de estatais
e servidores públicos como participantes, associado aos prejuízos
milionários recorrentes e decorrentes de sua má gestão, assinalam mais
um possível foco de corrupção que carece ser investigado com a máxima
urgência", diz a justificativa do requerimento para abertura da CPI.
De
acordo com o texto, são numerosas as demandas, por parte de
parlamentares e associação que representam os contribuintes, para a
apuração das causas. Os mais prejudicados, segundo o texto, são os
contribuintes, "gente que depositou suas economias nesses fundos com a
convicção de que seriam geridos de forma diligente e honesta", afirma.
Perdas
O
Postalis é um dos "casos emblemáticos de perdas vultosas de que foram
vítimas grandes fundos de pensão de estatais", diz o documento. Como o
jornal O Estado de S.Paulo revelou na edição de hoje, nos últimos anos,
os Correios fizeram investimentos "micados" em empresas do grupo de Eike
Batista, em títulos dos governos da Argentina e da Venezuela, nos
bancos Santos e BVA, ambos com falência decretada.
A
Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras, investiga
aplicação na empresa Trendbank, que administra fundos de investimento. A
Polícia Federal encontrou e-mails em computadores de pessoas ligadas ao
doleiro Alberto Yousseff atribuindo à influência de João Vaccari,
tesoureiro nacional do PT, a investimento de R$ 73 milhões das fundações
Petros e Postalis em 2012.
Partiu do conselho deliberativo
do Postalis a decisão de impor aos funcionários dos Correios a
contribuição extra que terá forte impacto sobre os salários. No primeiro
momento, ficou definido um corte de 25,98% nos contracheques. O déficit
será reavaliado a cada ano a partir do retorno dos investimentos e da
expectativa de vida dos participantes.
Um funcionário que
tem salário de R$ 10 mil, por exemplo, receberá R$ 2.598,00 a menos no
final do mês apenas para cobrir o déficit, além o valor da contribuição
definida.
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