As versões e os dados apresentados pela JD Assessoria e Consultoria
Ltda, do ex-ministro José Dirceu, para justificar os R$ 2,5 milhões que
recebeu da Engevix Engenharia e da Jamp Engenheiro Associados --empresa
que intermediava propinas da empreiteira na Diretoria de Serviços da
Petrobras-- são insustentáveis.
A opinião é do procurador regional da República Carlos Fernando Lima,
um dos coordenadores da força-tarefa da Operação Lava Jato. "Hoje está
muito difícil a situação do José Dirceu em relação ao que ela recebia da
Jamp." Segundo ele, "as histórias estão sendo contadas sem o mínimo de
cuidado de razoabilidade". "Eles estão se confundindo."
As divergências surgiram com o cruzamento de dados da quebra de sigilo
fiscal da JD com os documentos de contrato e notas fornecidas pela
defesa do ex-ministro no inquérito da Lava Jato em que é investigado.
Segundo a Receita Federal, a Engevix pagou R$ 1,1 milhão à JD entre
2008 e 2011. Documento contratual mostra valor de R$ 300 mil para seis
meses de consultoria internacional. O período de vigência é anterior à
assinatura, de novembro de 2010: inicia em novembro de 2009 e termina em
maio de 2011.
"Há uma contradição evidente de informações. O período não bate nem em
relação ao contrato ao que ele disse", afirmou o procurador da Lava
Jato.
Peça-chave
Novo nome nas investigações que abalaram os governos petistas, a Jamp
pertence a Milton Pascowitch, acusado de ser um dos 11 operadores de
propina na Diretoria de Serviços --cota do PT dentro do esquema de
corrupção na Petrobras. Um dos canais seria o ex-diretor Renato Duque,
nome indicado por José Dirceu ao cargo.
O operador é considerado peça-chave nas investigações envolvendo as
consultorias de Dirceu. As suspeitas são de elas foram usadas para
falsos serviços que poder ter ocultado dinheiro de propina. Pelo menos
sete empresas investigadas pela Lava Jato na Petrobras aparecem
depositando para a JD.
Além da Engevix, quebra de sigilo da JD revelou que a Jamp também está
entre as fontes pagadoras da empresa de consultoria de Dirceu. Ela
depositou R$ 1,4 milhão em 2001 e 2012. Os serviços seriam referentes à
consultoria internacional prestada por ele à empreiteira Engevix, em
especial, em Cuba e no Peru.
"A JD Assessoria e Consultoria assinou o contrato com a Jamp em março
de 2011 também com o objetivo de prospectar negócios no exterior para a
Engevix."
Conflito
Para os procuradores da Lava Jato, as versões apresentadas pela JD
conflitam com o que afirmou um dos sócios da Engevix, Gérson de Mello
Almada - preso desde o dia 14 de novembro de 2014--, nesta quarta-feira
(18).
Ele depôs espontaneamente na Justiça Federal, no processo em que é réu
por corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras, para admitir que
pagava o lobista da Jamp para abrir portas na estatal, via seus contatos
políticos do PT, citando o atual tesoureiro do partido, João Vaccari
Neto.
Almada disse que no caso da JD, os serviços eram de "lobby
internacional" em Cuba e no Peru e negou conhecer relação comercial
entre a Jamp e a JD - complicando ainda mais a vida de Dirceu.
"Ele [Almada] pagava a Jamp para fazer lobby com o Partido dos
Trabalhadores. E a Jamp, sabemos, paga o José Dirceu. Eu pergunto então
na audiência se ele sabe quais são as relações comerciais entre a Jamp e
a JD, e ele diz que não", argumento Carlos Lima.
"Depois a JD vem e emite uma nota dizendo que era para serviços da
Engevix [que ela recebeu da Jamp]. Contradição. A situação parece
insustentável em termos de versões", ataca o procurador, que já atuou
nas investigações do caso Banestado e em outros rumorosos escândalos de
corrupção.
Almada, ao admitir que usava dos serviços de Pascowitch e Dirceu como
"lobistas", negou corrupção. Disse não saber, no caso do operador da
Diretoria de Serviços, que o dinheiro pago para a Jamp servia para
corromper agentes públicos como Duque e seu braço-direito Pedro Barusco.
"O que ele diz que é lobby, ele não quer admitir, mas é repasse de
dinheiro que tem por origem o esquema da Petrobras", afirma o
procurador. "O que temos aqui é uma série de justificativas, para um
relacionamento, que não batem. Cada vez que eles justificam, depois os
fatos mostram o contrário. Um fala uma coisa, depois vem outro e fala
outra coisa."
A relação comercial direta com a Jamp foi o elemento de maior suspeita
contra o ex-ministro --já condenado no processo do mensalão, ele cumpre
prisão domiciliar.
"Se ele recebesse só das empreiteiras, era uma coisa. Mas receber de um
operador que sabidamente paga propina é um problema sério. Nós já temos
essa confusão de datas na contratação da Engevix", afirmou Carlos Lima.
A JD Assessoria e Consultoria diz que o ex-executivo da Engevix, Gerson
Almada, confirmou em seu depoimento que nunca conversou sobre Petrobras
com o ex-ministro e que Dirceu nunca fez pedido à empresa para doações
eleitorais. Almada também afirmou à Justiça que o contrato com a JD teve
o objetivo de prospecção de negócios no exterior, sobretudo Peru e
Cuba.
A JD assinou o contrato com a Jamp em março de 2011 também com o
objetivo de prospectar negócios no exterior para a Engevix. O empresário
Milton Pascowitch, sócio da Jamp, trabalhou por 17 anos na Engevix. A
JD manteve o trabalho de consultoria para a construtora por meio da
empresa de Pascowitch.
O valor do contrato era de R$ 1,5 milhão. A JD seguiu atuando nos
mercados de interesse do cliente na América Latina, sobretudo Peru e
Cuba, conforme confirmam os executivos da Engevix.
Ampliar
6.mar.2015
- Vista do prédio do Congresso Nacional, em Brasília, horas antes da
divulgação dos nomes dos políticos que serão investigados por possível
envolvimento em corrupção. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal)
Teori Zavascki autorizou a abertura de inquérito contra 47 políticos
para apurar a participação deles no esquema investigado pela operação
Lava Jato, que apura irregularidades na Petrobras. Ao todo, são 22
deputados federais, 12 senadores, 12 ex-deputados e uma ex-governadora
de seis partidos (PMDB, PT, PP, SD, PSDB e PTB). Há mais pessoas que
serão investigadas, mas não têm ou tiveram cargos eletivos. São elas o
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o lobista Fernando Baiano. Quatro
políticos tiveram pedido de abertura de inquérito arquivado. A
investigação do ex-ministro Antônio Palocci foi remetido à Justiça
Federal do Paraná André Dusek/Estadão Conteúdo
UOL
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