- Eder Chiodetto / Folhapress - 18.09.1992Estudantes "caras-pintadas" em ato contra Collor, em São Paulo, em setembro de 1992
1992. Jovens descontentes com o governo Fernando Collor, hoje senador
pelo PTB de Alagoas, mobilizam milhares de pessoas em manifestações pelo
impeachment do presidente. Sem internet, sem redes sociais, sem
celulares e sem aplicativos como o WhatsApp.
Como conseguiram
convocar os protestos e reunir tanta gente? "Era tudo mais lento num
momento político que exigia extrema rapidez. O que tinha de tecnologia
era fax e telefone [fixo]. Lembro que as nossas contas de telefone eram
quilométricas. Foram todas cortadas. Logo depois que o Collor caiu, a
gente não tinha condição de nada. A própria UBES deu 98 cheques sem
fundo nesse período. Foi um negócio de louco", diz o publicitário Mauro
Panzera, que na época presidia a UBES (União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas).
"As diretorias da UNE (União Nacional dos
Estudantes) e da UBES fizeram uma espécie de comando que acabava
marcando um calendário e distribuía para todo o país. Essa agenda era
relativamente aceita pelo movimento estudantil no país inteiro. E as
pessoas das cidades sabiam das datas e se preparavam. Todo dia tinha
manifestação, de segunda a sexta", afirma Panzera.
Na base do
movimento, as notícias do calendário dos protestos corriam no boca a
boca nas escolas e universidades. "Essas coisas se espalham com muita
rapidez, mesmo sem WhatsApp, mesmo sem redes sociais. Vira uma onda."
Os estudantes protagonizaram o movimento "Fora Collor" e entraram para a
história como os "caras-pintadas". Investigado pelo Congresso, Collor
deixou a presidência no terceiro ano de seu mandato e sofreu o impeachment. O vice Itamar Franco, então no PMDB, assumiu o cargo.
"Naturalmente que a gente queria abalar a política ao fazer a nossa
manifestação, mas ninguém previa que o abalo seria tão grande", diz o
publicitário, que na época estudava em Belém e hoje vive em Fortaleza.
"O movimento estudantil não foi sectário, recebia todo mundo, era o
mais amplo possível. Aceitava todas as cores, todos os credos. O
importante era ser contra o Collor", afirma o ex-presidente da UBES.
Partidos e sindicatos também participaram do movimento "Fora Collor",
mas nos atos dos "caras-pintadas", os estudantes ditavam o calendário e
dominavam a palavra. "Quem discursava no final das manifestações éramos
nós. O movimento estudantil é uma salada de grupos pequenos. E todos
queriam ter direito de falar".
Mais que corrupção
As denúncias de corrupção abalaram e derrubaram Collor, porém as
entidades estudantis, majoritariamente de esquerda, também se opunham à
política econômica do governo. "A gente ressaltava bastante, por ser
algo que a própria mídia ajudava, esse aspecto da corrupção. Mas o nosso
objetivo era, de certa forma, frear o que o Collor se propunha a fazer
com a economia do país: vender empresas, ter uma politica excludente".
Nesse aspecto, opina Mauro Panzera, a mobilização atual contra a
presidente Dilma Rousseff (PT) lembra o movimento "Fora Collor". Para
ele, quem se articula contra a petista não está preocupado apenas com as
denúncias de corrupção e se opõe às políticas da gestão petista.
O publicitário vê, no entanto, Dilma com muito mais sustentação do que
Collor e critica os movimentos que pregam o impeachment da presidente.
"É um povo movido pelo ódio, pela raiva. Esses movimentos são mais
conservadores do que o Collor era na época".
Ampliar
Denúncias
de corrupção: Com a revelação do Esquema PC, foi aberta uma CPMI
(Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) no Congresso em junho de 1992
para averiguar o caso. Teve início uma série de denúncias contra Collor,
como a confirmação de que uma empresa de PC Farias pagava as contas da
Casa da Dinda, residência do presidente Sérgio Tomisaki/Folhapress
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