BRASÍLIA - A Joaquim Levy não basta o papel de mero capataz de um
remendo emergencial nas contas do governo. O ministro, é visível,
entende que a recuperação da economia depende de sua credibilidade, e
sua credibilidade depende de demonstrar o fim da era de previsões
irrealistas, números maquiados e pacotes de muito apelo publicitário e
pouca solidez técnica.
O abandono da embromação econômica não se dará sem atritos. Em um pito
público, Dilma Rousseff chamou de "infeliz" a declaração do titular da
Fazenda segundo a qual o programa de desoneração tributária lançado no
primeiro mandato da presidente é "grosseiro".
Quem acompanhou a entrevista de Levy notou que sua preocupação, ao
anunciar uma drástica revisão da iniciativa, era fazer crer que, agora,
as decisões estão sendo tomadas com critério e conhecimento de causa:
tabelas e gráficos apresentados descreveram em minúcias os custos e o
impacto das medidas.
Mesmo que o vocabulário empregado tivesse sido mais diplomático, o
recado era claro. Muitos rapapés ao tratar da obra do antecessor, aliás,
podem dar a impressão de que o ajuste em curso não passa de um recuo
inevitável e temporário.
Em seu discurso de posse, Levy atacou o patrimonialismo –a mistura entre
interesses públicos e privados que pode descrever grande parte do
intervencionismo petista na economia. De lá para cá, chamou de
anacrônicas as regras do seguro-desemprego e previu uma retração da
economia nacional, tendo de consertar depois as afirmações.
O ministro pode começar a escolher as palavras para anunciar que o PAC
(o Programa de Aceleração do Crescimento, de maternidade atribuída a
Dilma) acabou. Suas obras de infraestrutura, indicou-se na semana
passada, perderam o privilégio de ficar a salvo do corte de despesas
–que, espuma marqueteira à parte, era a essência do programa.
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