13 fevereiro, 2015

PT morre. E maçã com cerejas

Não disputo o poder e, para mim, ganhe este ou aquele, a vida segue a mesma. Os petralhas ainda não conseguiram a minha cabeça na bandeja, rodeada de cerejas e com uma maçã na boca, embora já tenham tentado algumas vezes. Gostam de propor trocas indecorosas aos contratantes, até agora rejeitadas. 


Pouco afeitos ao trabalho duro, os companheiros ignoram que tenho outras habilidades além de juntar coordenadas e subordinadas. E nenhuma delas é executada de joelhos ou depende de patrocínio da Petrobras ou de estatais que virarão, cedo ou tarde, caso de polícia. 


E porque não disputo o poder, a irritação ou o gozo que me provocam a política são, vá lá, puramente intelectuais. E, ora vejam, vou me irritando ou gozando cada vez menos com ela. Para que algo excite a nossa imaginação, é preciso haver "encantamento", palavra oriunda do mesmo manancial semântico de que vêm o canto e o poema. Pesquisem. Irrita-se aquele que se deixa estimular, excitar, que se sente instigado. Encantamento e irritação são expressões benignas de importar-se. 


No meu próximo artigo, defendo o impeachment da Dilma. Neste, permitam-me que expresse o tédio que essa gente provoca em mim. O tédio é parente do ódio, mas se trata de uma aversão mais contida, mais serena, mais preguiçosa. E me enfadam menos os donos do poder, que estão por aí tentando achar uma saída, uma desculpa, uma trilha culposa que os livre do dolo e da cadeia, do que seus escribas. 


É possível que alguns estejam apenas ganhando a vida –fazer o quê? Essa profissão existe, e eu defendo que seja regulamentada. Mas há também, e são ainda mais patéticos, os que emprestam a sua pena à justificação da bandalheira de olho apenas no soldo moral. Não querem se confundir com os reacionários, ainda que possam se confundir com ladrões. Escolhas morais. 

 
De novo, para surpresa de ninguém, está na praça a tese do suposto confronto entre "conservadores e progressistas", entre "golpistas e legalistas", entre "nós e eles". E alguns articulistas se prestam ao triste papel de tingir o nariz de marrom. Rui Falcão descobriu que queremos mesmo, os maus, é privatizar a Petrobras, acabar com o regime de partilha e pôr um fim à política de conteúdo nacional –aquela que já provocou um edificante rombo de R$ 20 bilhões. Em nome do povo! Por isso o seu partido denunciou, numa resolução, a conspiração da direita e aproveitou para pregar o controle da "mídia". 


José Eduardo Cardozo, que ficou mais magro com uma dieta argentina, mas nem por isso passou a ter ideias mais severas –não leu Musil...–, acha que não se deve usar a roubalheira na Petrobras para disputar um terceiro turno. Segundo diz, só pessoas com "problema psicológico" defendem o impeachment de Dilma. Tá. 


Ele cansou de usar o direito como argumento. Perde! Prefere mandar o oponente para o hospício. É uma tradição da escola de pensamento da qual é oriundo. Este senhor tem ideias originais sobre investigação de atos petistas desde o caso Lubeca, que já tem quase 30 anos. Era o ovo da serpente. 


Os companheiros ainda não perceberam que sua organização começou a morrer. As valentias de um moribundo são sempre um espetáculo melancólico. Quer falar de psicologia, Cardozo? O PT era uma neurose. Agora é só uma necrose moral.


reinaldo azevedo Reinaldo Azevedo, jornalista, é colunista da Folha e autor de um blog na revista 'Veja'. Escreveu, entre outros livros, 'Contra o Consenso' (ed. Barracuda), 'O País dos Petralhas' (ed. Record) e 'Máximas de um País Mínimo' (ed. Record). Escreve às sextas-feiras.


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