Por volta de outubro de 2011, dois altos funcionários da Petrobras
jantaram em Milão (Itália) com o presidente e o agente de um banco
sediado na Suíça, o Cramer. No dia seguinte eles abriram contas no mesmo
banco em nome de empresas de fachada e começaram a receber milhões de
dólares em propina associadas a contratos de estaleiros com a estatal.
O encontro e a operação que o sucedeu –descritos pelo ex-gerente de engenharia da Petrobras
Pedro José Barusco Filho no acordo de delação premiada com o Ministério
Público Federal– são um exemplo do envolvimento pessoal de gestores de
contas de bancos sediados na Europa revelados pela Operação Lava Jato.
Paulo Araújo - 16.fev.2006/Ag. O Dia | ||
Ex-gerente de engenharia da estatal Pedro Barusco Filho |
Depoimentos de Barusco e outros delatores revelam a tolerância e mesmo o
incentivo dos bancos para permitir a guarda e o sigilo sobre dinheiro
suspeito movimentado por funcionários da estatal.
Barusco revelou que, após o jantar em Milão, as contas abertas no Cramer
receberam, ao câmbio de sábado (21), cerca de R$ 21 milhões de 2011 a
2013, propina referente a um programa de construção de navios equipados
com sondas de perfuração.
Do jantar, segundo Barusco, participaram ele, o ex-diretor de Serviços
da Petrobras Renato Duque, o consultor Julio Camargo e o ex-diretor-
presidente da Sete Brasil, João Carlos Medeiros Ferraz.
No dia seguinte, Barusco abriu a conta "Natiras", Duque, a "Drenos", e
Ferraz, a "Firasa". Camargo já era correntista no banco e apresentou o
banqueiro ao grupo.
Barusco também descreve o papel que dois funcionários do banco Safra na
Suíça desempenhavam no controle de depósitos feitos em nome de empresas
de fachada pertencentes a ele e Duque.
Segundo ele, o "operador" Mario Goes usou duas contas no Safra suíço
para fazer transferências para contas no banco Lombardo Odier, no mesmo
país, em benefício de Barusco e Duque. As contas chegaram a registrar
saldos de US$ 7 milhões cada uma.
De tempos em tempos, um funcionário do banco vinha ao Brasil fazer uma
conferência dos depósitos. Barusco citou os funcionários Denise Kos e
Edmond Michaan.
Barusco disse que escolhia as instituições financeiras que esconderiam
seu dinheiro de acordo com o sigilo oferecido. Ele contou que "entre
1997 e 1998 até outubro de 2010" ele recebeu US$ 22 milhões em propinas
pagas pela firma holandesa SBM.
Nos primeiros pagamentos, na década de 90, os valores foram pagos no
banco Republic, que depois foi comprado pelo HSBC. Barusco, porém, disse
que não gostou "do serviço e do 'sigilo' desse banco" e por isso
transferiu os valores de uma instituição a outra até que, em 2003,
"transferiu todos os créditos de propina destas contas para a conta
numerada" em seu nome no Safra de Genebra.
Barusco relata um dissabor. Ele contou que, no banco Lombardo Odier, um
brasileiro chamado "Roberto" orientou que ele e Duque abrissem duas
"contas de passagem" para ocultar capital, que receberam ao menos US$ 6
milhões. Tempos depois, Duque disse a Barusco que "Roberto havia
sumido": os dois perderam o dinheiro.
Editoria de arte/Folhapress | ||
FOLHA
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