A Justiça Federal decretou o bloqueio de R$ 106 milhões do ex-diretor
de Abastecimento da Petrobras Nestor Cerveró, acusado de receber
propinas na contratação de navios-sonda para uso em águas profundas no
Golfo do México e na África. A medida, datada de 21 de janeiro, acolheu
pedido da força-tarefa da operação Lava Jato, que investiga esquema de
corrupção na estatal petrolífera.
O valor confiscado corresponde à conversão de US$ 40 milhões, pelo
câmbio daquele dia, R$ 2,65, atingindo R$ 106 milhões. Cerveró está
preso desde janeiro. Ele já é réu em duas ações criminais da Lava Jato,
uma por corrupção passiva, a outra, instaurada nesta quarta feira, 25,
por lavagem de dinheiro.
Com parte da propina, segundo a Procuradoria da República, ele adquiriu
um apartamento no bairro de Ipanema, zona Sul do Rio, declaradamente
por R$ 1,5 milhão - o valor de mercado do imóvel bate em R$ 7,5 milhões.
A Justiça já decretou o sequestro do apartamento.
Para ocultar a compra, a Procuradoria aponta que ele usou a empresa
Jolmey do Brasil Administração de Bens, filial brasileira da offshore
Jolmey, aberta no Uruguai. Nos autos da Lava Jato foi anexado o
documento cartorial com a compra do apartamento.
Ele agia em nome de empreiteiras do cartel que se instalou na
Petrobras. Camargo afirmou que Cerveró e o lobista Fernando Falcão
Soares, o Fernando Baiano - suposto operador do PMDB na estatal
petrolífera - receberam os US$ 40 milhões. Depois, com base na
conferência de extratos bancários, o delator refez as contas e comunicou
a Justiça Federal no Paraná, base da investigação, que o montante da
propina foi de US$ 30 milhões.
A decisão judicial levou em conta a primeira informação. "Quanto ao
bloqueio de ativos, reputo, por ora, razoável limitar o valor no
correspondente à suposta vantagem indevida repassada a Fernando Soares e
a Nestor Cerveró, de US$ 40 milhões, convertendo-os pelo câmbio de R$
2,65 como constante na denúncia o que chega a R$ 106 milhões", decidiu o
juiz Sérgio Moro, que conduz todas as ações da Lava Jato.
No mesmo despacho, Moro ordenou a quebra do sigilo fiscal de Cerveró,
no período de 2004 a 2014. "A quebra de sigilo fiscal abrange todos os
dados disponíveis à Receita Federal." O Ministério Público Federal
requereu o bloqueio de ativos no valor "suficiente à recuperação do
produto do crime e reparação dos danos decorrentes do crime em relação a
Nestor Cunat Cerveró".
Segundo a denúncia Cerveró, na condição de Diretor Internacional da
Petrobrás, teria "recebido vantagem indevida de milhões de dólares para
favorecer a contratação, em 14 de junho de 2006 e em 9 de fevereiro de
2007, pela empresa estatal da empresa Samsung Heavy Industries Co para
fornecimento de navios sondas para perfuração de águas profundas".
"A vantagem indevida, de cerca de quarenta milhões de dólares, foi
intermediada pelos coacusados Fernando Antônio Falcão Soares vulgo
Fernando Baiano, e Júlio Gerin de Almeida Camargo, tendo ainda sido
objeto de complexas transações financeiras destinadas a lavar o produto
do crime", assinala o juiz Sérgio Moro.
"Entre essas transações, transferências financeiras internacionais, com emprego de contas no exterior em nome de off-shores."
O advogado Edson Ribeiro, que defende o ex-diretor de Internacional da
Petrobrás, disse na quarta feira, 25, que a nova denúncia contra
Cerveró, por lavagem de dinheiro, "é inepta". Ele afirmou que seu
cliente não recebeu propinas e nem lavou dinheiro ilícito. Para Edson
Ribeiro, o Supremo Tribunal Federal "vai anular toda a Operação Lava
Jato".
Ampliar
13.fev.2015
- Paulo Roberto Costa deixa a sede da Polícia Federal, em Curitiba, no
Paraná, nesta sexta-feira (13), para depor sobre a operação Lava Jato na
Justiça Federal. Costa cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro desde
que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, em
outubro do ano passado. Ele chegou a Curitiba na manhã desta
sexta-feira em um avião comercial escoltado por policiais federais e
deve retornar ao Rio após a audiência Leia mais Vagner Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo
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