A inflação chegou a 7,36% com a economia estagnada. Foi o dado do
IPCA-15 divulgado ontem. Em dois meses, a taxa acumulada é metade da
meta do ano. O aumento da energia elétrica em 12 meses é de quase 30%.
Dez de 11 capitais pesquisadas pelo IBGE têm inflação acima do teto da
meta. O IPCA-15 de 1,33% deve ser confirmado no IPCA do mês de
fevereiro.
Até recentemente os economistas brasileiros achavam
muito altas as taxas de inflação da Índia, que oscilaram de 7% a 11%
entre 2006 e 2012. Os indianos eram o patinho feio inflacionário dos
Brics, ao lado da Rússia, pois tinham taxas mais altas quando comparadas
às da China, Brasil, e África do Sul. Hoje, a inflação no Brasil é
maior que a da Índia, que tem se beneficiado muito da queda dos preços
do petróleo, dos alimentos e da energia. O BC indiano está cortando
juros.
Nas 11 capitais pesquisadas, apenas Salvador não está com a
inflação acima do teto da meta, com 6,19%. As outras 10 estão com
índices acima de 6,5%. O Rio de Janeiro é quem sofre mais com a alta dos
preços, que dispararam 8,84% em um ano. O Rio passou quase todo 2014
com a inflação acima do teto, e agora se aproxima de 9%. Goiânia e Porto
Alegre também têm índices na casa dos 8%. Recife, Brasília, Belém,
Curitiba e São Paulo marcam inflação na casa de 7%.
A inflação é
mais um caso de Dilma versus Dilma. Ela errou no governo passado, e a
conta chegou no atual mandato. Os preços administrados foram contidos
artificialmente e agora estão sendo corrigidos. Têm subido muito os
grupos transporte e habitação.
Nos transportes, é o efeito da alta
da gasolina e da volta da Cide, mas, em fevereiro, foi principalmente
aumento de ônibus em todas as cidades pesquisadas. Há dois anos, o então
ministro da Fazenda Guido Mantega ligou para prefeitos e governadores
pedindo para que eles não reajustassem as tarifas de transporte público.
Queria evitar que a inflação do mês de janeiro fosse alta demais. Em
junho de 2013, no meio dos protestos, o governo segurou os pedágios nas
rodovias federais.
Preço que é contido em um momento aparece em
outro. A gasolina e o diesel foram mantidos com preços abaixo do que a
Petrobras pagava no mercado internacional. Agora, quando cai a cotação
lá fora, os combustíveis sobem aqui dentro. A consequência se viu ontem
nas estradas: os caminhoneiros pararam rodovias em oito estados
protestando contra o aumento do diesel e a alta dos pedágios. Além
disso, o frete, o que eles recebem, não subiu. A paralisação em si já
provoca efeitos econômicos. Há cidades desabastecidas e preços subindo.
Isso produzirá mais inflação.
Há aumentos que acontecem num
período do ano, como o do item educação, o que mais subiu no IPCA-15 de
fevereiro. Há outros que vão incomodar o ano inteiro, como a energia.
Além dos 29,5% de alta nos últimos 12 meses, o item vai continuar
subindo pelos reajustes nas datas de cada concessionária e elevações
extraordinárias que estão previstas. Vão subir porque o governo derrubou
o preço artificialmente, desequilibrou as empresas financeiramente,
deixou que elas pegassem empréstimos para serem cobrados do consumidor. É
isso que fará o item habitação ficar alto o ano inteiro.
As
projeções para a inflação de 2015 estão se distanciando do teto da meta
de 6,5%. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal,
estima que a inflação vá terminar o ano entre 7,5% e 8%. O Itaú Unibanco
estima alta de 7,4%, a mesma projeção da consultoria Rosenberg
Associados.
O IPCA-15 é uma espécie de prévia. Pega a metade de um
mês e a metade do outro. E subiu em relação ao IPCA de janeiro, que deu
1,24%. Mesmo se essa aceleração não continuar, o IPCA do mês de janeiro
deve ficar acima de 1%, o que elevaria a taxa em 12 meses para 7,6%.
O
presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já havia avisado que
esse seria o pior bimestre do ano e que em março a inflação em 12 meses
começaria a cair. Tomara que seja só um momento ruim. Há muita pressão
de alta. Uma delas é a do dólar. Há dias de queda, como ontem, mas a
tendência tem sido de fortalecimento da moeda americana. O aumento do
dólar tem efeito em vários produtos, inclusive a tarifa da energia de
Itaipu. Dilma recebeu de Dilma uma pesada herança. E o público pagante
somos todos nós.
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