SÃO PAULO - Ao final da longa purgação que apenas se inicia, a
Petrobras e todo o complexo político-empresarial ao seu redor terão sido
desidratados. Do devaneio fáustico vivido nos últimos dez anos restará
um vulto apequenado, para o bem da democracia brasileira.
As viúvas do sonho grande estão por toda parte. Um punhado de militantes
e intelectuais fanáticos por estatais monopolistas acaba de publicar um
manifesto que exala agonia.
O léxico já denota a filiação dos autores. A roubalheira na Petrobras
são apenas "malfeitos". O texto nem bem começa e alerta para a
"soberania" ameaçada, mais à frente sabe-se que por "interesses
geopolíticos dominantes", mancomunados, claro, com "certa mídia", em
busca de seus objetivos "antinacionais".
Que agenda depuradora essa turma teria condição de implantar se
controlasse a máquina repressiva do Estado. Conspiradores
antipatrióticos poderiam ser encarcerados, seus veículos de comunicação,
asfixiados, e suas empresas, estatizadas para abrigar a companheirada.
Que espectro de PDVSA, o portento estatal total que fatura o equivalente
a 60% do PIB na Venezuela, poderia surgir no Brasil. O Congresso
conservador, o Orçamento limitado e vigiado, o Judiciário indócil, o
Ministério Público indômito e a Polícia Federal autônoma seriam afogados
pela força diluviana dessa empresa-Estado.
Felizmente o Brasil é muito maior que o petróleo que produz e pode vir a
produzir. A Petrobras, mesmo agigantada após anos de política
monopolista perdulária, fatura pouco mais de 5% do valor do PIB.
Quanto maior é o peso de empresas estatais na economia, mais amplos são
os meios para o autoritarismo. Imagine se o governo ainda tivesse em
mãos a Vale, a Embraer e as telefônicas para fazer política. Quais
seriam os valores da corrupção, se é que sobrariam instituições
independentes o bastante para apurá-los?
Vinicius Mota é Secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
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