Investigadores da operação Lava Jato encontraram nas buscas no
escritório do doleiro Alberto Youssef, em março de 2014, cópia de
documento de alteração societária de uma empresa especializada em
consultorias para prefeituras, o Instituto Tebar, que pertence ao
deputado estadual de São Paulo eleito pelo PT Luiz Fernando Teixeira
Ferreira. Luiz Fernando - como é conhecido - é irmão do deputado federal
Paulo Teixeira (PT-SP), ex-líder do PT na Câmara.
O fundador do
instituto é muito próximo do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz
Marinho (PT) - apesar de não ter cargo no governo local. O documento foi
encontrado em meio ao material recolhido pela PF no escritório de
Youssef, em São Paulo - local onde eram tratadas as propinas pagas por
empreiteiras do cartel a agentes públicos e políticos alvos da Lava
Jato. O parlamentar não está sob investigação, nem o Instituto Tebar.
"Não faço ideia do que esse documento poderia estar fazendo com
Youssef. Nunca tive nada com ele", afirmou o deputado eleito, que será
empossado no dia 15.
Ele disse não haver irregularidades nos
serviços prestados pelo instituto para prefeituras e reagiu com
indignação ao saber da existência de um documento da empresa em meio aos
papeis apreendidos no escritório do doleiro, alvo central da Operação
Lava Jato.
O Instituto Tebar - Fomento, Desenvolvimento,
Especialização e Modernização da Administração Pública foi criado em
1993, em São Bermardo do Campo, na Grande São Paulo, por Luiz Fernando.
Está registrado em seu nome e no de sua mulher.
A empresa é
especializada em dar cursos de formação para gestões municipais, em
especial na área de licitações. Em uma página oficial na internet, o
Instituto Tebar informa que "iniciou a discussão da modernização da
administração pública, principalmente no que toca às licitações e
contratações".
O documento que estava em poder de Youssef tem
seis folhas com registro em cartório da quarta alteração contratual da
empresa, datado de 1º de julho de 2011. O documento trata de uma
alteração de endereço da empresa e foi recolhido em abril do ano
passado, durante buscas no escritório de Youssef. O documento foi
anexado aos autos da Lava Jato.
Como não havia interesse
específico para as investigações da Petrobras, o material não foi
analisado e não houve aprofundamento de apurações sobre o caso. O
deputado eleito pelo PT informou que vai buscar informações sobre essa
documentação. "Meu contador é de São Bernardo, não tem absolutamente
nada, não tenho nem noção de quem seja esse senhor (Alberto Youssef)",
afirmou Luiz Fernando. "Isso é uma aberração, essa documentação estar lá
(no escritório do doleiro da Lava Jato). Não conheço esse pessoal, não
tenho nenhuma relação, zero."
Cardozo
O parlamentar
ressaltou que nunca prestou serviços para a Petrobras. O Instituto Tebar
teve em seu quadro técnico, quando foi criado nos anos 90, o atual
ministro de Justiça, José Eduardo Cardozo.
O ministro
protagonizou nos últimos dias um polêmico capítulo da Lava Jato. Ele
admitiu ter recebido advogados de empreiteiras que estão sob suspeita de
formação de cartel na Petrobrás. O ministro foi procurado por
defensores dos empresários capturados no dia 14 de novembro de 2014,
quando foi deflagrada a Operação Juízo Final, sétima fase da Lava Jato
que fez ruir o poderoso braço econômico do esquema de corrupção e
propinas na estatal petrolífera.
O episódio provocou críticas
abertas do juiz federal Sérgio Moro que conduz todas as ações da Lava
Jato. Ele classificou de "interferências políticas indevidas" a
estratégia das empreiteiras em buscar socorro do governo. O juiz sugeriu
ao ministro que cuide de dar condições estruturais e independência à
Polícia Federal, afeta ao Ministério da Justiça.
O nome do
ministro ainda consta da lista do "corpo técnico" do Instituto Tebar. A
empresa - conhecida hoje apenas como Instituto Tebar de Treinamento S/C
Ltda. - enfatiza em seu site a importância de "corpo técnico". Outro
nome dos quadros técnicos é o do próprio deputado Luiz Fernando.
Luiz Fernando afirmou que Cardozo nunca foi contratado nem recebeu pelo
seu trabalho no Instituto Tebar. "Ele deu aula em um dos cursos. Isso
foi lá por 2000. Faz mais de 12 anos que o Zé nunca mais deu nenhuma
palestra para gente, nada."
O ministro José Eduardo Cardozo
(Justiça) afirmou que deu várias aulas para o Instituto Tebar no começo
da década de 90 e que recebeu pelo trabalho absolutamente regular. "Dei
muita aula, mas foi há mais de 20 anos." O período, lembra o ministro,
foi entre 1993 e 1995.
"Na década de 90, não sei quando foi
criado, mas quando conheci o Luiz Fernando logo depois da Lei de
Licitações, a 8.666 de 1993, entrar em vigor. E na época o Instituto
Tebar organizava muitos cursos sobre licitação no País", destaca
Cardozo.
Ele afirmou que estava fora da política ou cargos
públicos naquele período. "Teve um período de dois anos que fiquei
advogando e dando aula", explicou o ministro. Ele disse que chegou a ser
um dos principais professores a dar aula para a empresa.
O
ministro explicou que as aulas que dava eram pagas pela empresa, mas que
nunca teve vínculo empregatício nem prestou consultoria para o
Instituto Tebar. Cardozo chegou a ser convidado para ser sócio do
negócio, mas não aceitou.
Ampliar
26.fev.2015
- Hotel Príncipe da Enseada, do doleiro Alberto Youssef, é saqueado e
pichado em Porto Seguro, na Bahia. Apontado como operador do esquema de
corrupção na Petrobras, Youssef disse à Justiça que os estabelecimentos e
bens que abriu mão são fruto de dinheiro oriundo de atividade criminosa
Leia mais Namidia News/Divulgação
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