Os fundos de investimento tinham pelo menos R$ 9 bilhões em papéis
diretamente ligados à Petrobras e aos seus fornecedores, incluindo
empresas citadas na Lava Jato, no final de janeiro.
São aplicações que surgiram no período de pujança financeira da
Petrobras, mas que agora tornaram-se sensíveis a eventuais atrasos nos
pagamentos tanto da Petrobras quanto de sua cadeia de fornecedores.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Também têm sofrido com os recentes rebaixamentos de avaliação das
agências de risco.
Quando isso ocorre, o valor de um título deve ser
revisto para baixo, implicando em perdas para os cotistas.
O levantamento, baseado em dados da consultoria Economatica, considerou
quanto os fundos possuem em debêntures (dívidas de longo prazo) e
participações das empreiteiras, além do adiantamento de recursos que os
fornecedores receberão da estatal (chamados recebíveis) e de papéis
baseados em imóveis que a estatal aluga.
O montante dobra se incluir também os recebíveis que não foram para os
fundos, mas ficaram nos bancos. A Petrobras coordena um programa chamado
Progredir, que viabilizou o adiantamento de R$ 9,4 bilhões em
recebíveis desses fornecedores.
A situação mais delicada é a de 217 fundos que somam R$ 7,3 bilhões em
dívida e participações em empreiteiras acusadas de pagar propina para
conseguir contratos na Petrobras.
Elas foram banidas da lista de fornecedores da estatal e várias enfrentam problemas de caixa. Em dezembro, esses fundos tinham mais: R$ 7,8 bilhões. O recuo deve-se tanto a resgates quanto à desvalorização nas cotas.
A maioria desses fundos é voltada a grandes investidores, como outros
fundos de investimento ou de pensão, e muitos têm como cotista o próprio
banco gestor.
O maior temor dos cotistas é que essas empresas peçam recuperação
judicial. Uma vez aceito o pedido, os pagamentos são suspensos e o fundo
entra na fila como credor para receber da empresa.
Só a Caixa Econômica Federal tem sob gestão R$ 3,8 bilhões, espalhados
em 15 fundos. A Caixa afirma que esses fundos não são oferecidos a
clientes, sendo que dois deles concentram R$ 3 bilhões e têm como
cotista a empresa emissora da dívida.
Há ainda no mercado cerca de R$ 1,2 bilhão em papéis cujo risco está
ligado a imóveis alugados pela Petrobras –os CRI (Certificados de
Recebíveis Imobiliários).
Com a piora da situação financeira da empresa, aumentou a chance de que
haja calote nestes pagamentos. No final de janeiro, a Moody´s rebaixou
algumas séries desses títulos emitidos pela RB Capital e avisou que
outros rebaixamentos podem vir.
Os fundos formados para reunir os recebíveis de fornecedores da
Petrobras –FIDCs (Fundos de Investimento em Diretos Creditórios)– reúnem
hoje R$ 38 milhões, mas o valor já foi muito maior.
As aplicações encolheram diante do temor de gestores de que os fornecedores não finalizassem as obras.
Nesse caso, as perdas iniciais são da Petrobras (que também é cotista) e depois dos demais aplicadores.
A Plural Capital, que lançou um fundo de R$ 300 milhões há cerca de
quatro anos, é uma das que decidiu devolver o dinheiro dos cotistas e
irá encerrar o fundo.
"Uma coisa é fomentar um mercado sadio. Se o clima não está bom para o
fornecedor, não está para o produto", diz Humberto Tupinambá, gestor de
fundos do setor de óleo e gás da instituição.
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