A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (25) regras mais
rígidas para a criação e fusão de partidos. As medidas podem ter efeito
nos planos políticos do ministro Gilberto Kassab (Cidades) e da
ex-senadora Marina Silva.
A proposta, que segue para votação no Senado, cria uma espécie de
quarentena, só permitindo a união de siglas após cinco anos de sua
criação.
Ficou estabelecido ainda que, para a criação de novas siglas, só serão
aceitas assinaturas de apoiamento de eleitores que não sejam filiadas a
qualquer partido político.
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
Parlamentares conversam na Câmara durante sessão que votou barreira à criação de novos partidos |
Atualmente, para ter seu registro oficializado pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) uma legenda precisa apresentar cerca de 485 mil
assinaturas. A lei não impede que a pessoa tenha ligação com outras
siglas.
A votação na Câmara representa mais uma derrota para a presidente Dilma
Rousseff. O projeto ganhou aval do presidente da Casa, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que se aliou à oposição para tentar barrar uma articulação do
Planalto para diluir o peso do PMDB dentro da base de apoio ao governo.
O objetivo da proposta é minar as movimentações políticas de Kassab, que
ganhou nos corredores do Congresso o apelido de "lei Kassab".
A norma, no entanto, pode atingir também Marina Silva, que trabalha pela
criação da Rede. Isso porque ela obteve assinaturas tanto de pessoas
filiadas como de não filiados. Em 2014, o projeto da Rede não decolou
por falta de assinaturas, o que levou a senadora à disputa a Presidência
pelo PSB.
Para não ser enquadrada na futura regra e ter que reiniciar a coleta,
ela precisa apresentar o pedido de registro à Justiça Eleitoral antes da
aprovação no Senado e eventual sanção da regra pela presidente.
PARTIDO LIBERAL
Cacique do PSD, o ex-prefeito de São Paulo trabalha nos bastidores, com o aval do governo, para recriar o Partido Liberal.
Sua intenção é inflar esse novo partido, que já nasceria governista, com
deputados da oposição e do PMDB. As regras da fidelidade partidária
permitem a migração para novas legendas sem o risco de cassação do
mandato.
Criado o PL, a intenção de Kassab seria fundi-lo ao PSD, tornando a
legenda, possivelmente, a maior do Congresso Nacional. O movimento
começou em 2014 e ganhou força durante a reforma ministerial, quando a
presidente Dilma Rousseff prestigiou Kassab com a pasta das Cidades.
As negociações irritaram especialmente o PMDB, principal aliado do
governo, e partidos da oposição, que acertaram a reação, inclusive com a
possibilidade de recorrer à Justiça para impedir o movimento.
O texto praticamente jogaria por água abaixo as articulações para
recriar o Partido Liberal, já que seria pouco interessante a um deputado
ficar cinco anos em um partido que pouco tempo na propaganda eleitoral,
o principal trunfo das campanhas políticas.
A proposta favorece especialmente partidos da oposição que correm o
risco de ser desidratados com o movimento pelo PL, como DEM, PSDB, PSB.
Na votação da Câmara, o PSD, o PR e o PROS se manifestaram contrários às
mudanças. Para evitar o desgaste público, o PT e o liderança do governo
liberaram os deputados.
Atualmente, o país conta com 32 partidos, sendo que 28 têm representação na Câmara.
Autor do projeto, o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), disse que o
objetivo das novas regras é frear com a "indústria" de criação de
partidos, com especialistas em novas legendas.
Líder do PSD, o deputado Rogério Rosso (DF), reclamou da proposta. "Esse texto extrapolou os acordos feitos em plenário", disse.
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