Poderiam ter sido apenas patéticas, mas são preocupantes as declarações
da presidente Dilma Rousseff (PT), após várias semanas de silêncio,
sobre o caso Petrobras.
Repetiram-se, na sua entrevista de sexta-feira (20) –a primeira desde
que começou seu novo mandato–, considerações já conhecidas de quem se
recorda dos debates travados na campanha eleitoral.
Dilma voltou a insistir na tecla de que os casos de corrupção agora são
investigados com mais rigor, dada a independência do Ministério Público e
da Polícia Federal.
Ao reproduzir essa tática argumentativa na atual conjuntura, todavia, a
presidente agrava a impressão de que nunca teve nada de efetivo para
apresentar à sociedade diante da crise na Petrobras; nada, a não ser a
quase envergonhada demissão de Graça Foster e a indicação de Aldemir
Bendine para o comando da estatal.
Nessa troca de nomes, feita como que a contragosto, sem nenhuma
afirmação verbal de liderança, sem nenhum sinal de que tomasse a
condução política dos fatos, Dilma colocara-se como espectadora,
reagindo diante do inevitável.
Esse seria o lado patético de sua entrevista: a falta de outro discurso
além daquele, pífio, proposto pelos publicitários nas últimas eleições e
a permanência de uma atitude inerte, passiva, diante do episódio.
O lado preocupante, todavia, chama mais a atenção. Transparece, na
entrevista de Dilma, a expectativa de que ainda possa estar convencendo
alguém quando projeta para 1996 ou 1997 a raiz da atual crise na
Petrobras (talvez nem mesmo nos ambientes do petismo a tese ganhe
credibilidade).
Se houvesse investigações sobre corrupção naquela época, "nós não
teríamos o caso desse funcionário da Petrobras que ficou durante quase
20 anos [atuando no esquema]", disse a presidente.
Como se, depois de transcorrida a gestão de Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002), não tivesse havido o primeiro e o segundo mandatos de Lula,
seguidos dos anos de governo da própria Dilma.
Pode-se, sem dúvida, discutir quando começou a corrupção na Petrobras.
Mas o espantoso no raciocínio presidencial está em sugerir que Lula,
Dilma e toda a camarilha são vítimas de irregularidades cometidas 20
anos atrás. Assim, PT, PMDB e PP, partidos que delatores apontaram como
beneficiários de bilhões desviados, seriam meros bodes expiatórios.
Levando adiante o que sustentou a presidente, se Lula tivesse ganho as
eleições em 1994, levando Dilma ao conselho da Petrobras, a rapinagem
nunca teria chegado ao ponto a que chegou.
O cinismo, às vezes, confunde-se com a estultice; entre a falta de
sensibilidade política, a fraqueza argumentativa e o desgaste de sua
liderança, a presidente Dilma Rousseff rompe o silêncio para criar
somente uma sensação de vazio ainda maior à sua volta.
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