Denis Sinyakov - 26.fev.12/Reuters | |
O presidente russo, Vladimir Putin, assinou uma lei que obriga as
compahias de internet a armazenar dados sobre usuários russos no próprio
país, onde o governo possa ter acesso a eles. Calcula-se que poucas
empresas cumprirão a lei, que entrará em vigor em 1° de setembro.
Em dezembro, a agência reguladora da internet na Rússia exigiu que o
Facebook retirasse uma página que estava divulgando uma manifestação
contra o governo.
Depois que a rede social bloqueou a página para seus cerca de 10 milhões
de usuários russos, surgiram dezenas de páginas de imitadores e a
notícia se espalhou em outras redes como o Twitter.
Isso gerou ainda mais publicidade para o evento marcado para 15 de
janeiro, em protesto contra a pena imposta a Aleksei Navalny, um
conhecido líder da oposição.
O blogueiro russo Anton Nosik disse que é absurdo um governo achar que
pode suprimir facilmente um conteúdo, já que esses materiais podem ser
copiados e encontrados em outros lugares mediante poucos cliques. "O
leitor sempre quer ver aquilo cujo acesso lhe foi negado", disse Nosik.
O governo turco passou por constrangimento semelhante quando tentou
impedir a disseminação de documentos e gravações vazados no Twitter em
março.
Além de o governo perder uma batalha judicial relativa à questão, e
embora o Twitter estivesse bloqueado, legiões de turcos trocaram dicas
sobre truques técnicos para contornar a proibição.
Ivan Sekretarev - 30.dez.14/Associated Press | |
Bloqueio não conseguiu impedir a divulgação de um protesto em Moscou em dezembro |
Nós todos viramos hackers", comentou Asli Tunc, professor na Universidade Bilgi, em Istambul.
Ativistas pela liberdade de expressão consideram o Facebook, a maior
rede social do mundo, com 1,35 bilhão de usuários por mês, como a
empresa mais inclinada a cooperar com os governos.
No início de 2014, enquanto o Twitter estava bloqueado na Turquia e o YouTube foi fechado, o Facebook retirou conteúdo impugnado e continuou funcionando.
O Twitter, que tem cerca de 284 milhões de usuários por mês, se
autoapregoa como uma espécie de praça do mundo e um defensor global da
liberdade de expressão, mas se adapta à censura, ao mesmo tempo em que
faz vista grossa a estratégias para driblá-la.
Como maior ator do setor, o Google, cujo YouTube frequentemente enfurece
governos estrangeiros e é obrigado a enfrentar muitas batalhas, ainda é
considerado por muitos como um herói por sua decisão de deixar a China
em 2010, em vez de continuar censurando resultados de buscas no país.
A despeito dessas vitórias dos defensores da livre expressão, governos
aumentam seus esforços para controlar a internet. "Há cada vez mais
pedidos para a retirada de informações", disse Colin Crowell,
vice-presidente global do Twitter para políticas públicas.
O Paquistão, por exemplo, bombardeou o Facebook com quase 1.800 pedidos
para retirar conteúdo no primeiro semestre de 2014. Todavia, a pressão
não parte apenas de regimes autocráticos.
A União Europeia, onde o recém-estabelecido "direito ao esquecimento"
permite que residentes solicitem a motores de busca a retirada de links
sobre eles, agora quer que resultados de busca em suas versões não
europeias também sejam deletados sob pedido.
No entanto, a Rússia é o atual ponto focal nas guerras que envolvem
censura. Em meados de 2014, Moscou passou a exigir que qualquer pessoa
com no mínimo 3.000 seguidores por dia acate regras semelhantes àquelas
que se aplicam a uma empresa de mídia.
O Google, cujo serviço de busca é o segundo mais usado na Rússia, só
perdendo para a local Yandex, anunciou que fechará seus escritórios de
engenharia no país.
A empresa disse que está consolidando esses escritórios globalmente, mas
um fator que pesou na decisão acima mencionada foi o risco de ser alvo
de inspeções a mando de autoridades russas.
Robert Shlegel, membro do Parlamento russo que participa da elaboração
de políticas para a internet no Kremlin, disse que as regulações russas
são uma reação à espionagem dos EUA revelada pelo ex-prestador de
serviços da NSA Edward Snowden.
Segundo ele, a prioridade da Rússia é persuadir outros países a
elaborarem um conjunto internacional de regras para redes sociais e
sites colaborativos, o qual estipularia em que situações países poderiam
bloquear páginas para cumprir leis nacionais.
Shlegel disse que as autoridades russas não pretendem bloquear empresas
de internet que não cumprirem a lei. "O que precisamos fazer é
dialogar".
Para Nosik, é improvável que as redes sociais como o Facebook e o Twitter sejam proibidas.
Afinal, há o temor de que, ao perder repentinamente o acesso a fotos,
lembranças de família, cartas de amor e contatos com amigos acumulados
durante anos, milhões de usuários de internet russos passariam a culpar o
presidente Vladimir Putin.
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