24 janeiro, 2015

Jovens, amor e futuro

Esta semana vivi uma emoção incrível, inédita, que me levou a acreditar um pouco mais, a esperar um pouco mais, a ser um pouco menos cético em relação ao nosso futuro, o futuro do país, do mundo.

Depois de cinco anos de muito esforço, dedicação e sofrimento mesmo, minha filha se formou. Engenharia Civil, numa das melhores (e portanto mais difíceis...) universidades da área, a Mackenzie.

E dias atrás foi a chamada colação de grau, aquela cerimônia de entrega de canudos, discursos, becas e quetais. Achei que iria lá apenas para cumprir tabela numa cerimônia formal e chata; papel de pai, pensei.

E isso tudo –discursos, rapapés e becas– aconteceu de fato, 200 jovens sentados enfileirados no grande palco do tradicional auditório Ruy Barbosa, pais, parentes e amigos lotando a plateia barulhenta.

Prestando menos atenção nas formalidades do que nas expressões daquela garotada toda –um misto de alegria, cansaço e alívio pelo fim de uma jornada tão extenuante–, me lembrei de minha própria formatura quase 40 anos atrás e deixei envolver pela imaginação, viajando um pouco nos sonhos, nas expectativas, nos planos, nos medos e nos desejos daquela molecada, praticamente todos na casa dos 20 anos.

Será que eles têm ideia do que os espera? Será que vão ter forças para encarar não apenas um mercado de trabalho às vezes selvagem, mas evoluir, crescer, amadurecer, optar pela ética e pelo bem comum? Quantos terão sucesso naquela jornada que ao mesmo tempo que chegava ao fim com a formatura apenas começava na dura vida profissional?

E os pais, aquele povo todo à minha volta, que mal conseguia se conter de tanta felicidade? Será que eles tinha ideia de que nada estava acabando de verdade ali? Que pais preocupados com filhos é pra vida toda, não tem formatura pra isso?
Na sucessão de homenagens no palco, e sem que eu soubesse que isso iria acontecer, ouço o mestre de cerimônia anunciar que agora seria feita um tributo específico aos pais.

E quem faria o discurso?

Minha filha!

O orgulho, que até então estava satisfatoriamente sob controle, explodiu ao ver aquela baixinha vestida de beca preta dirigir-se ao microfone e começar a falar. E como falou bem a danada! Ela que é mais afeita a cálculos um e dois, concretos, tabelas e planilhas, estava ali a desfiar frases lindas e palavras doces. Até que de repente parou. Parou para conter o choro, o que certamente a deixou muito envergonhada, mas o que fez alunos e plateia explodir num aplauso emocionado...
Sinceramente eu ouvi pouca coisa do que foi dito daí em diante. Um turbilhão de sentimentos tomou conta do coração. Coração este que quase explodiu quando ouvi meu nome sendo falado pelo locutor: como assim?

Ele simplesmente estava me chamando –e, claro, à mãe da Jacqueline, hoje minha grande amiga– para subir ao palco e receber as homenagens em nome de todos os pais, presentes e ausentes.

O caminho entre o posto onde estava e o palco foi uma das trajetórias mais emocionantes que já tive na vida. Ao percorrer aqueles 30, 50 metros, veio à mente o bebê gorducho nascido numa noite fria de julho, as noites mal dormidas, a menininha doce de cabelos encaracolados e seus desenhos coloridos, a menina voluntariosa e boa, sempre disposta a ajudar as amigas, a adolescente apenas um pouco aborrecente, a mocinha atrevida que resolve ir estudar fora do país, a mulher que volta trazendo um gringo na bagagem para casar e viver junto em seu país, a mãe fantástica que está criando o Gabriel de uma maneira que eu nunca seria capaz, a agora engenheira, formando de fato com aqueles rapazes e garotas ali na minha frente uma geração que sem dúvida nenhuma vai fazer deste um país bem melhor do que aquele que entregamos a eles –eu quero acreditar nisso!

Ao fim e ao cabo de tudo aquilo, senti verdadeiramente representando não apenas os pais daqueles formandos, mas sim os pais, verdadeiros pais e mães que humilde e dedicadamente evoluem por intermédio de seus filhos.

Já me desculpando pelo provável cabotinismo e pela manifestação de nepotismo explícita, publico a seguir o discurso da filha em homenagem aos pais –certamente vai agradar aos que têm filhos.
*
"Boa noite a todos! Eu acredito que essa homenagem seja a maior e a mais difícil de todas. Estou aqui para representar todos os formandos de hoje com essa homenagem. Como agradecer a pessoas tão especiais em nossas vidas, pessoas que estavam sempre conosco quando precisávamos e que nos acolheram e nos deram a chance de estar aqui hoje? Queremos agradecer a todos vocês, que nos deram a vida e nos ensinaram a vivê-la com dignidade –não basta apenas um obrigado.

A vocês, que iluminaram nossos caminhos com amor e muita dedicação, que se deram por inteiros e algumas vezes deixaram seus próprios sonhos para trás para realizar os nossos. A vocês, que foram os que iniciaram nossa educação, nos tornaram capazes de aprender, nos ensinaram a sentar, falar, comer, aprender e a viver.

Todos vocês que sofreram em nos ver passar por esses cinco anos (ou mais) estudando, dando tudo de si, trabalhando, chorando, reclamando (e muito!), queremos dizer obrigado! Obrigado por aguentarem nossas crises de choro, estresse e ansiedade antes e durante provas e trabalhos intermináveis. E depois por celebrarem com a gente a felicidade incontrolável de saber que passamos naquela (ou naquelas) matérias que não tínhamos certeza se conseguiríamos. Ou até por entenderem que tivemos que fazer mais de uma vez algumas matérias para poder entender realmente o que ela significava. E ainda assim por compreenderem que essa fase era passageira, e a recompensa e o sentimento de hoje é impossível de se descrever com palavras.

Obrigada por acreditarem em nós!

A vocês devemos tudo que somos, tudo que sabemos hoje, sem vocês não estaríamos aqui. Nos ensinamentos da vida, vocês realmente foram mestres.
Uma etapa se acaba hoje e uma nova fase se inicia. Nessa nova fase, queremos que continuem nos ajudando, nos ensinando, passando toda a sua experiência, as boas e as ruins, para que continuemos crescendo.

Como disse Luis Fernando Veríssimo: 'A verdade é que a gente não faz filhos. Só se faz o layout. Eles mesmos fazem a arte final.'

Mas eu devo dizer que vocês fizeram layouts exepcionais!

Neste instante, gostaríamos de parar e agradecer os passos apoiados na infância, os conselhos dados na adolescência, os ensinamentos de toda a vida.
A vocês nossa sincera homenagem e eterna gratidão.


Dedicamos a vocês pais, aqui presentes, ausentes ou que já não mais estão entre nós, essa vitória que hoje nos foi entregue." 



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