A mudança nas regras para a concessão de benefícios trabalhistas e
previdenciários, anunciada no final do mês passado como uma das medidas
de redução das despesas públicas, foi decidida pelo governo de Dilma
Rousseff antes da eleição, encerrada em outubro de 2014.
Um integrante do governo confirmou à Folha que as novas normas, que
limitam a obtenção do seguro-desemprego e do abono salarial, foram
definidas em meados de 2014.
Em agosto, o governo reduziu em R$ 8,8 bilhões a previsão do gasto com o
abono salarial para este ano. A revisão consta do PLOA (Projeto de Lei
Orçamentária Anual) de 2015, enviado naquele mês pelo Planalto ao
Congresso.
O integrante do governo ouvido pela Folha disse que a previsão foi feita
com base nas regras já então definidas e que seriam anunciadas depois
das eleições.
Durante a campanha, em ataques aos candidatos adversários, Dilma disse
que não faria alterações na legislação que comprometessem direitos do
trabalhador.
Editoria de Arte/Folhapress
Ao insinuar que seus opositores alterariam os direitos trabalhistas,
chegou a afirmar que não mexeria em benefícios como férias e 13º "nem
que a vaca tussa".
O tema virou um dos slogans da campanha de Dilma. O PT anunciou no site
da candidata uma mobilização nacional, batizada de "Nem que a vaca
tussa", contra mudanças nos direitos trabalhistas.
No dia 6 de novembro, o ainda ministro Guido Mantega (Fazenda) antecipou
o que sua própria equipe já havia preparado. "Nós temos agora que fazer
uma redução importante das despesas que estão crescendo, como o
seguro-desemprego, abono salarial e auxílio-doença", disse o ministro
durante evento da FGV (Fundação Getulio Vargas) em São Paulo.
Quando as novas regras foram divulgadas, no final de dezembro, Joaquim
Levy já havia sido anunciado como o substituto de Mantega na Fazenda.
Levy foi convidado oficialmente por Dilma para ocupar o cargo no dia 20
de novembro, duas semanas, portanto, depois da declaração de Mantega na
FGV.
Hoje, um trabalhador para receber o seguro-desemprego pela primeira vez
precisa ter trabalhado seis meses nos últimos 36 meses anteriores à data
da dispensa. Se requisitar o benefício pela segunda vez, vale a mesma
regra.
Com as novas normas, que entram em vigor em março, para receber o seguro
pela primeira vez o trabalhador precisa ter trabalhado 18 meses nos
últimos 24 meses anteriores à demissão. Para obter o benefício pela
segunda vez, o trabalhador precisa ter recebido salários por pelo menos
12 meses nos últimos 16 meses antes da dispensa.
Segundo cálculos da Fazenda, metade dos trabalhadores que pediram o
seguro em 2014 pela primeira vez não teria direito ao benefício com as
novas regras.
Para o abono salarial, pago ao trabalhador que recebeu até dois salários
mínimos, haverá carência de seis meses de trabalho ininterrupto para a
concessão do benefício. Hoje, basta trabalhar um mês no ano.
As novas regras tornam mais rígidas também as concessões de abono
salarial, pensão por morte, auxílio doença e seguro defesa, pagos a
pescadores durante períodos de proibição da pesca.
A maior parte das alterações será feita por medidas provisórias, que
terão de ser aprovadas pelo Congresso. O governo espera economizar R$ 18
bilhões. As novas regras foram bem recebidas pelo mercado e por
especialistas, por corrigir distorções e por reduzir os gastos públicos.
OUTRO LADO
O Palácio do Planalto foi procurado pela reportagem no início da tarde
de sexta-feira (23). A assessoria solicitou que as perguntas fossem
encaminhadas por e-mail.
A Folha questionou quando as novas regras para a concessão dos
benefícios trabalhistas foram elaboradas e se o Planalto confirmaria que
as medidas foram desenhadas pela equipe do ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega.
Num primeiro momento, a assessoria do Planalto informou que o tema deveria ser respondido pelo Ministério da Fazenda.
Depois, acrescentou que repassaria as perguntas para a Fazenda, se fosse o caso.
Na tarde deste domingo (25), a Folha tentou novo contato com o plantão da assessoria do Planalto, mas não teve sucesso.
Até a conclusão desta edição, nem o Planalto nem a Fazenda ligaram de
volta ou responderam os questionamentos encaminhados por e-mail.
No final do mês passado, quando as novas regras foram anunciadas, o
ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse que as medidas
corrigiriam distorções existentes nos benefícios e que, por esse motivo,
não configurariam uma contradição com as promessas feitas pela
presidente Dilma Rousseff durante a campanha.
"Os direitos estão sendo mantidos. Estamos dando isonomia [aos
trabalhadores] e alguns programas precisam de correção. [...] Nas
conversas com centrais [sindicais], eles não só concordam, como sabem
que existem distorções nas regras de acesso", afirmou ministro durante o
anúncio das medidas.
"A grande distorção é para quem está entrando no mercado de trabalho. Se
não fizermos essas alterações, as futuras gerações pagarão um preço
muito alto. Precisamos olhar [para o futuro] de forma sustentável",
disse Mercadante.
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