A vendedora de roupas Vanessa Regina de Almeida Dutra Pontes, 38, viúva e mãe de dois filhos, com uma renda mensal declarada de R$ 1,2 mil, disse que custou a crer na informação da Operação Lava Jato de que era dona de uma empresa que recebeu R$ 59 milhões entre dezembro de 2012 e abril de 2013.
"Eu chorei, chorei, preocupada com meus filhos. Eu tenho como provar que
não peguei um centavo", disse Vanessa, que reside na periferia de
Curitiba (PR). "Me falaram que tinha milhões lá. Eu falei: 'Meu Deus do
céu, vocês estão ficando loucos?'."
A empresa registrada em nome de Vanessa, a madeireira Alnapa Soluções, é
apenas a ponta de uma nova frente de investigação aberta pela Polícia
Federal sob acompanhamento do juiz de Curitiba (PR) Sergio Moro como um
desdobramento da Lava Jato.
Em novembro último, o Banco Central informou a Moro que um grupo de
cinco empresas relacionadas financeiramente com a Alnapa e uma segunda
firma, a WS Business, enviaram para o exterior US$ 124 milhões (ou R$
323 milhões ao câmbio desta quarta) por meio de contratos de câmbio
somente entre janeiro de 2012 e março de 2014.
A Fazenda informou a Moro que quatro dessas empresas "não foram
habilitadas para atuar no comércio exterior" e uma teve a habilitação
suspensa por inatividade. A PF apontou indícios de que as empresas são
"de fachada, com vultosas movimentações financeiras entre si".
A City Clean Serviços Especiais, que remeteu mais de US$ 7,8 milhões,
por exemplo, funcionava numa casa de madeira sem letreiros no bairro
Cajuru, em Curitiba.
Segundo Vanessa, ela forneceu seus dados para a abertura da Alnapa a
pedido de um conhecido, o vendedor de cosméticos Djalma Aparecido
Machado, 49.
Também localizado pela Folha, Machado disse que fez apenas uma
operação de importação, no valor de cerca de US$ 100 mil, e desconhece
todo o resto movimentado pela empresa. Ele afirmou que seus dados "foram
usados indevidamente por corretoras de São Paulo".
Machado e Vanessa prestaram depoimento à PF em novembro. A PF agora
tenta descobrir quem são os donos do dinheiro remetido ao exterior e
principalmente o destino final dos valores.
A Folha apurou que a polícia não sabe até o momento se as firmas
foram usadas para escoar propina relativa a obras da Petrobras ou se é
um outro esquema paralelo sem conexão com o escândalo da petroleira.
O esquema de remessas por contratos de câmbio também foi utilizado pelo
doleiro Alberto Youssef para enviar para fora pelo menos US$ 239 milhões
entre 2009 e 2014. Parte desse dinheiro chegou ao ex-diretor de
Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa.
O sistema funciona da seguinte forma: a empresa brasileira envia o
dinheiro para o exterior sob alegação de que está comprando materiais de
empresas estrangeiras; o dinheiro é enviado, mas o material nunca chega
ao Brasil.
A Folha não conseguiu localizar os responsáveis pela City Clean,
Conferlix, DJJ, Dantas Import e Sena e Franca. A PF também continua
atrás de seus proprietários.
A pista que levou às seis empresas surgiu no depoimento do consultor
Luccas Pace Júnior, condenado por evasão de divisas em outro processo da
Lava Jato por ligação com a doleira Nelma Kodama.
FOLHA
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O Blog Olhar de Coruja deseja ao novo Presidente Jair Messias Bolsonaro tenha grande êxito no comando do nosso País.