Vivendo um verdadeiro inferno astral de começo de mandato, com medidas
econômicas impopulares, apagão e disputas políticas, a presidente Dilma
Rousseff tem optado pelo silêncio. A assessores, contudo, diz que o
período de ajuste é necessário e deve durar dois anos.
É o tempo que Dilma considera como inevitável para arrumar a economia e enfrentar as turbulências políticas.
Ela tem dito estar convicta do caminho adotado, e tende a desconsiderar
as críticas de que está isolada em suas decisões ou praticando
estelionato eleitoral ao adotar medidas associadas à oposição.
Para a presidente, o principal ponto de preocupação do momento é outro: o
efeito econômico da crise decorrente da Operação Lava Jato, que afeta
diversas grandes empreiteiras com contratos agora sob suspeita com a
Petrobras.
Auxiliares presidenciais dizem que o governo já estava preparado para
receber críticas pelos ajustes necessários na política econômica, mas
teme agora uma onda de demissões e quebra de empresas ligadas ao
escândalo.
Este cenário não estava previsto e pode piorar a situação econômica do
Brasil, que já não é boa e ainda pode contar com o efeito da crise
hídrica em São Paulo -principal mercado consumidor do país.
Há receio de que as demissões na indústria naval, que já bateram em 12
mil cortes de vagas nos últimos dois meses, dobrem até o fim do ano.
REUNIÃO
Dilma pretende tratar desses temas em sua primeira reunião ministerial
do segundo mandato, marcada para terça (27), quando deve dizer aos
ministros que o ajuste fiscal é necessário e que eles têm de estar
preparados para passar um período difícil.
Ela defenderá todas as medidas adotadas até aqui por sua equipe
econômica e dirá que o ajuste fiscal aumenta o desafio de cada ministro
buscar medidas para ajudar o país a sair desta fase de crise.
A reunião da presidente com sua equipe ocorrerá num momento em que ela é bombardeada tanto por aliados como pela oposição.
A petista tem sido criticada pelo silêncio que vem mantendo desde o ano
passado, durante período em que baixou medidas como redução de
benefícios trabalhistas e previdenciários, aumento de impostos e corte
de gastos. Decisões que contrariaram seu discurso de campanha, mas foram
aplaudidas pelo mercado financeiro.
Dilma também não fez nenhum comentário sobre o apagão ocorrido na
segunda (19), que atingiu 11 Estados e o Distrito Federal, sendo que
durante a campanha garantiu que o setor elétrico brasileiro é robusto e
seguro.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
FOGO AMIGO
Líderes petistas e centrais sindicais, por sinal, deixaram de lado o
silêncio adotado no final do ano passado e passaram a criticar
publicamente a presidente pelas medidas econômicas. O PT se queixa da
perda de espaço no governo e da falta de interlocução com a presidente.
Nos bastidores, grão-petistas dizem que não elegeram Dilma para "este
projeto que está aí''.
Ministros lembram que, na véspera do segundo turno, Dilma já havia dado a
senha da condução do segundo mandato. A um grupo seleto de assessores a
presidente disse que, se conseguisse mais quatro anos na Presidência,
estaria "livre" para governar do seu jeito, sem compromisso com
reeleição.
No próximo dia 6, o PT prepara uma grande festa em Belo Horizonte para
comemorar o aniversário do partido. O evento deve servir de palco para
afagos ao ex-presidente Lula, principal nome para a sucessão de Dilma,
em 2018.
Entre aliados, Dilma não está se afastando apenas do PT. Em outra
frente, a eleição para presidência da Câmara, ela enfrentará o PMDB:
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é favorito e desafeto do Planalto.
Para não ficar refém do PMDB, o Planalto tem incentivado a formação de
uma base aliada "alternativa'', liderada pelos ministros Cid Gomes
(Educação), do Pros, e Gilberto Kassab (Cidades), do PSD.
A movimentação irritou o PMDB, que também reclama da falta de acesso ao
núcleo palaciano. Tanto PT como PMDB afirmam que Dilma se fechou em
copas após a eleição, dando ouvido apenas ao ministro Aloizio Mercadante
(Casa Civil) e isolando outros interlocutores, como o próprio
ex-presidente Lula e o vice-presidente, Michel Temer.
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