Imagine-se a doutora Dilma Rousseff dizendo o seguinte durante a campanha eleitoral:
"Nossos adversários quebraram o país três vezes e venderam para um banco
metade da participação da Petrobras em ricos campos de petróleo da
África."
Em julho de 2013 a Petrobras vendeu ao banco BTG Pactual metade de suas
operações em campos de petróleo de sete países africanos. O coração do
negócio estava em dois campos da Nigéria (Akpo e Agbami), dos quais a
empresa tira uma produção de 55 mil barris/dia, 60% de todo o petróleo
que o Brasil importa, ou 25% do que refina.
Para se ter uma ideia do que isso significa, é uma produção equivalente a
10% do que sairia do pré-sal brasileiro um ano depois, ou quatro vezes o
que Eike Batista conseguiu extrair.
No século passado a Petrobras decidiu internacionalizar-se para
controlar reservas fora do país. Nada mais certo. A empresa trabalhou em
sigilo e em outubro de 2012 contratou o Standard Chartered Bank para
assessorá-la. Um mês depois, numa negociação direta com a Petrobras, o
BTG Pactual mostrou-se interessado no negócio, propondo a formação de
uma nova subsidiária. A Petrobras listou 14 petroleiras que poderiam se
interessar, nenhum banco. Além do Pactual, só uma empresa chegou à reta
final.
Quanto valiam os campos? Aí é que a porca torcia o rabo. Uma nuvem preta
pairava sobre os marcos regulatórios da Nigéria (onde estão Akpo e
Agbami). O consultor financeiro da Petrobras estimou que, com a entrada
em vigor de uma lei nova e ruim, valeriam US$ 3,4 bilhões, ou US$ 4,5
bilhões sem ela. O banco BSC estimou essas mesmas cifras. Sem considerar
o eventual impacto da lei ruim, segundo uma publicação da consultoria
Wood Mackenzie, valeriam até US$ 4 bilhões, e para outra, da IHS, só o
campo de Akpo valeria pelo menos US$ 3,6 bilhões. Endireitando-se o rabo
da porca: com o barril de petróleo a US$ 100, o ano de 2014 acabou-se e
até hoje a lei ruim não entrou em vigor.
Em maio de 2013 o Pactual ofereceu US$ 1,52 bilhão, superando a proposta
rival. Esse valor derivava de sua avaliação de US$ 3,04 bilhões para
todo o pacote africano. Como a lei poderia mudar para pior, fazia algum
sentido. O banco propunha que, ao nascer, a subsidiária tomasse um
empréstimo de US$ 1,5 bilhão. Mistério: por que a Petrobras venderia um
ativo por US$ 1,52 bilhão e, seis meses depois, criaria uma nova
empresa, endividada em US$ 1,5 bilhão? A sugestão foi rebarbada, mas
admitiu-se negociar outro endividamento, mais adiante.
Seis meses depois de fechar negócio com o BTG Pactual a Petrobras
discutia a tomada de um empréstimo de US$ 700 milhões para a subsidiária
africana junto aos bancos Standard Chartered (o mesmo que assessorou a
venda) e Paribas. O setor financeiro da empresa achou as condições
salgadas, com uma taxa de juros acima do que a empresa paga no mercado
internacional. Em janeiro de 2014 estimava-se que a subsidiária
distribuísse US$ 1 bilhão em dividendos no primeiro semestre daquele
ano. Portanto, um ano depois de ter entrado no negócio, o BTG Pactual
poderia receber US$ 500 milhões. Na vida real, no primeiro trimestre
distribuíram-se US$ 300 milhões, deixando-se US$ 500 milhões no caixa e
US$ 200 milhões aplicados. (O empréstimo, aprovado, não entra nessa
conta.)
Aquilo que no século passado foi uma ideia de ampliar os interesses da
empresa em terras estrangeiras resultou numa privatização de metade da
sua operação africana. Acertou-se também que ela continuaria sob o
logotipo da Petrobras, apesar de a estatal só ter metade do negócio. A
presidência da empresa e a diretoria comercial seriam ocupadas
rotativamente pelo BTG e pela Petrobras, a cada dois anos. O diretor
financeiro da subsidiária seria nomeado pelo banco, e o diretor
operacional sairia da estatal. Se a Petrobras tivesse liquidado alguns
micos ou operações menores, tudo bem, mas ela vendeu metade de sua
participação em terras d'África, especificamente a de dois campos
nigerianos estrategicamente valiosos. Fez isso com relativa pressa, pois
o negócio deveria ser concluído em 2013.
-
O QUE VEM POR AÍ
Quem leu as transcrições do que o "amigo Paulinho" e o operador Alberto Youssef já contaram, resumiu seu estarrecimento:
"Se eu tivesse que usar o linguajar dos médicos que atendem vítimas de
acidentes em prontos-socorros, classificaria a situação de João Vaccari
Neto, tesoureiro nacional do PT, de 'desesperadora'."
Pode estar acontecendo um fenômeno curioso, como se houvesse um
espetáculo de dança e a coreografia dos bailarinos (Lula e Dilma
calados) nada tivesse a ver com a música tocada pela orquestra que toca
com a partitura das informações até agora divulgadas publicamente. A
plateia está ouvindo essa orquestra.
Contudo, os dançarinos acompanham a música de outra, que executa outra
partitura, com as informações que não foram divulgadas. Essa toca no
ritmo de quem sabe o que vem por aí.
Pelo andar da carruagem, o que vem por aí é uma nova leva de prisões.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo, um idiota, mora num fundo de pensão e por mais que ofereça
serviços de consultoria, não entende por que ninguém o contrata. Ele
está deprimido pelo que aconteceu às grandes empreiteiras nacionais e
chorou ao saber da prisão do presidente da Assembleia de Nova York por
ter embolsado apenas uns poucos milhões de dólares.
O idiota acha que há grandes empresários que, por serem muito
inteligentes, não contratam consultorias com cretinos. Olhando o que
aconteceu na Petrobras e o que está acontecendo em Nova York, Eremildo
acredita que eles teriam feito melhor negócio se o tivessem contratado.
VOZES D'ÁFRICA, 1
Fernando Soares, também conhecido no mundo do petróleo como "Fernando
Baiano", ofereceu-se para colaborar com a Viúva nas investigações das
petrorroubalheiras. O Ministério Público pediu-lhe uma amostra do que
tinha a revelar, e a oferta foi rebarbada. Tudo o que ele contava os
doutores já sabiam.
VOZES D'ÁFRICA, 2
Para se ter uma ideia dos números da transação dos campos africanos da
Petrobras, com o barril de petróleo a US$ 100, de julho de 2013 a
dezembro de 2014 os campos nigerianos produziram US$ 3 bilhões.
A refinaria de Pasadena custou US$ 1,2 bilhão.
VOZES D'ÁFRICA, 3
A Petrobras decidiu vender metade de sua participação no campo nigeriano
de Agbami sem oferecer à Chevron o direito de preferência a que teria
direito.
Agbami é o segundo maior campo da Nigéria e é operado por uma afiliada
da Chevron. Ele produz 71 mil barris/dia, 25 mil dos quais vão para a
Petrobras.
Felizmente a Chevron não se portou como um "inimigo externo".
VOZES D'ÁFRICA, 4
Durante o tucanato a Petrobras expandiu seus interesses na África,
comprando parte dos campos nigerianos de Agbami e Akpo. O comissariado
vendeu metade desse negócio.
Em 2007 o petrocomissário José Sergio Gabrielli comprou a refinaria
Nansei, no Japão. Ela produzia 45 mil barris/dia. Planejava-se dobrar
essa produção.
Esqueceram-se de combinar com os ambientalistas japoneses e de comunicar
ao Conselho de Administração, que arriscava-se ficar com um mico.
Ficou.
Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o
Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor
ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às
quartas-feiras e domingos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O Blog Olhar de Coruja deseja ao novo Presidente Jair Messias Bolsonaro tenha grande êxito no comando do nosso País.