25 janeiro, 2015

A privataria petista na Petrobras africana

Imagine-se a doutora Dilma Rousseff dizendo o seguinte durante a campanha eleitoral:
"Nossos adversários quebraram o país três vezes e venderam para um banco metade da participação da Petrobras em ricos campos de petróleo da África." 

Em julho de 2013 a Petrobras vendeu ao banco BTG Pactual metade de suas operações em campos de petróleo de sete países africanos. O coração do negócio estava em dois campos da Nigéria (Akpo e Agbami), dos quais a empresa tira uma produção de 55 mil barris/dia, 60% de todo o petróleo que o Brasil importa, ou 25% do que refina. 

Para se ter uma ideia do que isso significa, é uma produção equivalente a 10% do que sairia do pré-sal brasileiro um ano depois, ou quatro vezes o que Eike Batista conseguiu extrair. 

No século passado a Petrobras decidiu internacionalizar-se para controlar reservas fora do país. Nada mais certo. A empresa trabalhou em sigilo e em outubro de 2012 contratou o Standard Chartered Bank para assessorá-la. Um mês depois, numa negociação direta com a Petrobras, o BTG Pactual mostrou-se interessado no negócio, propondo a formação de uma nova subsidiária. A Petrobras listou 14 petroleiras que poderiam se interessar, nenhum banco. Além do Pactual, só uma empresa chegou à reta final. 

Quanto valiam os campos? Aí é que a porca torcia o rabo. Uma nuvem preta pairava sobre os marcos regulatórios da Nigéria (onde estão Akpo e Agbami). O consultor financeiro da Petrobras estimou que, com a entrada em vigor de uma lei nova e ruim, valeriam US$ 3,4 bilhões, ou US$ 4,5 bilhões sem ela. O banco BSC estimou essas mesmas cifras. Sem considerar o eventual impacto da lei ruim, segundo uma publicação da consultoria Wood Mackenzie, valeriam até US$ 4 bilhões, e para outra, da IHS, só o campo de Akpo valeria pelo menos US$ 3,6 bilhões. Endireitando-se o rabo da porca: com o barril de petróleo a US$ 100, o ano de 2014 acabou-se e até hoje a lei ruim não entrou em vigor. 

Em maio de 2013 o Pactual ofereceu US$ 1,52 bilhão, superando a proposta rival. Esse valor derivava de sua avaliação de US$ 3,04 bilhões para todo o pacote africano. Como a lei poderia mudar para pior, fazia algum sentido. O banco propunha que, ao nascer, a subsidiária tomasse um empréstimo de US$ 1,5 bilhão. Mistério: por que a Petrobras venderia um ativo por US$ 1,52 bilhão e, seis meses depois, criaria uma nova empresa, endividada em US$ 1,5 bilhão? A sugestão foi rebarbada, mas admitiu-se negociar outro endividamento, mais adiante.

Seis meses depois de fechar negócio com o BTG Pactual a Petrobras discutia a tomada de um empréstimo de US$ 700 milhões para a subsidiária africana junto aos bancos Standard Chartered (o mesmo que assessorou a venda) e Paribas. O setor financeiro da empresa achou as condições salgadas, com uma taxa de juros acima do que a empresa paga no mercado internacional. Em janeiro de 2014 estimava-se que a subsidiária distribuísse US$ 1 bilhão em dividendos no primeiro semestre daquele ano. Portanto, um ano depois de ter entrado no negócio, o BTG Pactual poderia receber US$ 500 milhões. Na vida real, no primeiro trimestre distribuíram-se US$ 300 milhões, deixando-se US$ 500 milhões no caixa e US$ 200 milhões aplicados. (O empréstimo, aprovado, não entra nessa conta.) 

Aquilo que no século passado foi uma ideia de ampliar os interesses da empresa em terras estrangeiras resultou numa privatização de metade da sua operação africana. Acertou-se também que ela continuaria sob o logotipo da Petrobras, apesar de a estatal só ter metade do negócio. A presidência da empresa e a diretoria comercial seriam ocupadas rotativamente pelo BTG e pela Petrobras, a cada dois anos. O diretor financeiro da subsidiária seria nomeado pelo banco, e o diretor operacional sairia da estatal. Se a Petrobras tivesse liquidado alguns micos ou operações menores, tudo bem, mas ela vendeu metade de sua participação em terras d'África, especificamente a de dois campos nigerianos estrategicamente valiosos. Fez isso com relativa pressa, pois o negócio deveria ser concluído em 2013.
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O QUE VEM POR AÍ
 
Quem leu as transcrições do que o "amigo Paulinho" e o operador Alberto Youssef já contaram, resumiu seu estarrecimento:
"Se eu tivesse que usar o linguajar dos médicos que atendem vítimas de acidentes em prontos-socorros, classificaria a situação de João Vaccari Neto, tesoureiro nacional do PT, de 'desesperadora'." 

Pode estar acontecendo um fenômeno curioso, como se houvesse um espetáculo de dança e a coreografia dos bailarinos (Lula e Dilma calados) nada tivesse a ver com a música tocada pela orquestra que toca com a partitura das informações até agora divulgadas publicamente. A plateia está ouvindo essa orquestra. 

Contudo, os dançarinos acompanham a música de outra, que executa outra partitura, com as informações que não foram divulgadas. Essa toca no ritmo de quem sabe o que vem por aí. 

Pelo andar da carruagem, o que vem por aí é uma nova leva de prisões. 

EREMILDO, O IDIOTA
 
Eremildo, um idiota, mora num fundo de pensão e por mais que ofereça serviços de consultoria, não entende por que ninguém o contrata. Ele está deprimido pelo que aconteceu às grandes empreiteiras nacionais e chorou ao saber da prisão do presidente da Assembleia de Nova York por ter embolsado apenas uns poucos milhões de dólares.
O idiota acha que há grandes empresários que, por serem muito inteligentes, não contratam consultorias com cretinos. Olhando o que aconteceu na Petrobras e o que está acontecendo em Nova York, Eremildo acredita que eles teriam feito melhor negócio se o tivessem contratado. 

VOZES D'ÁFRICA, 1
 
Fernando Soares, também conhecido no mundo do petróleo como "Fernando Baiano", ofereceu-se para colaborar com a Viúva nas investigações das petrorroubalheiras. O Ministério Público pediu-lhe uma amostra do que tinha a revelar, e a oferta foi rebarbada. Tudo o que ele contava os doutores já sabiam.
 
VOZES D'ÁFRICA, 2

Para se ter uma ideia dos números da transação dos campos africanos da Petrobras, com o barril de petróleo a US$ 100, de julho de 2013 a dezembro de 2014 os campos nigerianos produziram US$ 3 bilhões.
A refinaria de Pasadena custou US$ 1,2 bilhão.
 
VOZES D'ÁFRICA, 3

A Petrobras decidiu vender metade de sua participação no campo nigeriano de Agbami sem oferecer à Chevron o direito de preferência a que teria direito. 

Agbami é o segundo maior campo da Nigéria e é operado por uma afiliada da Chevron. Ele produz 71 mil barris/dia, 25 mil dos quais vão para a Petrobras.

Felizmente a Chevron não se portou como um "inimigo externo".
 
VOZES D'ÁFRICA, 4

Durante o tucanato a Petrobras expandiu seus interesses na África, comprando parte dos campos nigerianos de Agbami e Akpo. O comissariado vendeu metade desse negócio. 

Em 2007 o petrocomissário José Sergio Gabrielli comprou a refinaria Nansei, no Japão. Ela produzia 45 mil barris/dia. Planejava-se dobrar essa produção. 

Esqueceram-se de combinar com os ambientalistas japoneses e de comunicar ao Conselho de Administração, que arriscava-se ficar com um mico. Ficou.


elio gaspari
Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.

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