Fala para ministros foi titubeante na forma e mostrou falta de convicção
Presidente não deu argumentos novos para defesa da política econômica
“Podia
passar mais rápido, por favor”, disse Dilma Rousseff, irritada, num dos
trechos de seus discurso de abertura da primeira reunião ministerial de
seu segundo mandato. Estava incomodada com a velocidade com que
deslizava à sua frente, no teleprompter, o texto de sua fala.
Segundos
depois, não satisfeita, afirmou: “Vou ler”. Fez menção de pegar o
discurso, impresso, e passar a ler olhando para o papel –e não para a
frente, pela tela transparente do teleprompter. Em seguida, desistiu do
papel. Voltou a encarar o teleprompter e a ler de maneira titubeante.
Esse
trecho do discurso foi muito mencionado nas redes sociais. A brigada
petista reagiu na hora diante das menções à irritação de Dilma. “Falta
de assunto, cretino?”, atacou um militante do PT.
Na realidade, se
faltou assunto foi para a presidente da República. Ela própria fez uma
ressalva ao final, lembrando a todos que as medidas que incluiu no
discurso já eram conhecidas –muitas já estavam até incluídas em medidas
provisórias enviadas ao Congresso.
Com um terninho amarelo, Dilma
foi prejudicada também pela luz e pela maquiagem que faziam seu rosto
brilhar de maneira excessiva na tela da TV. A presidente parecia o tempo
todo desconfortável com o que estava falando. Demonstrava insatisfação
com o conteúdo do discurso com o qual toureava no teleprompter.
Falou
que vai combater a corrupção, que o momento é de contenção de gastos,
que é necessário (não poderia faltar esse jargão) “fazer mais com menos”
e que seus 39 ministros devem reagir “aos boatos”. Quando ouvirem que o
governo vai reduzir direitos trabalhistas, devem levar “a posição do
governo à opinião pública”, pois tais direitos “são intocáveis”. Dilma
determinou: “Não podemos deixar dúvidas”.
Mas a presidente falou
sobre fazer um milagre sem mencionar a receita para materializá-lo.
Afinal, o que é a política (correta, do ponto de vista econômico) de
exigir mais meses de trabalho prévio por parte de quem é demitido e
deseja ter acesso ao seguro desemprego? Trata-se de retirar um direito
de parte dos trabalhadores.
O governo pode argumentar que se trata
de uma anomalia a facilidade com que se concede tal benefício. Mas não
tem como chamar a medida por outro nome que não “redução de um direito
trabalhista”.
Dilma poderia ter usado seu discurso no início da
reunião ministerial desta terça-feira (27.jan.2015) para explicar tudo
isso. Poderia dizer: existem certos benefícios que não se tratam de
direitos, mas de privilégio para poucos com o prejuízo da maioria que
precisa bancar essa farra –afinal, é o que se passa. Estaria oferecendo
aos seus ministros argumentos mais objetivos para que sejam claros em
suas entrevistas.
Mas a presidente talvez não esteja nem ela
própria tão convencida do que está sendo adotado –a seu mando– pela
equipe econômica. Esse foi o tom de seu discurso. E não apenas porque
ela gaguejou várias vezes ao ler o texto no teleprompter. O caso mesmo
foi de falta de convicção no discurso presidencial.
Blog do Fernando Rodrigues
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