Uma
das maiores e mais influentes empreiteiras do país, a Camargo Corrêa já
admite assumir sua culpa no esquema de corrupção da Petrobras. A
perspectiva de que a empresa faça um acordo de delação com o Ministério
Público Federal ameaça explodir o "clube da propina", apelido das
construtoras investigadas na Operação Lava Jato.
A negociação ainda não é formal, mas o time de advogados da Camargo vem
discutindo os termos de um amplo acordo com o Ministério Público, a CGU
(Controladoria Geral da União) e o Cade (Conselho Administrativo de
Defesa Econômica).
A Folha apurou que a Camargo aceita abrir o jogo sobre sua
participação no grupo acusado de superfaturar obras e pagar propina a
diretores da estatal. Mas ainda vacila quanto à exigência de apontar
novos crimes em outras áreas do governo, como quer a Procuradoria.
Um dos pontos em discussão é a metodologia a ser aplicada no cálculo das
multas e indenizações. Qualquer que seja o critério, "serão centenas de
milhões de reais", diz um profissional que acompanha o assunto.
A intenção da empresa é fazer um acordo combinado com seus três
executivos presos desde novembro, o que lhe daria mais controle sobre os
rumos do processo. Como a Folha revelou neste sábado (24), eles também negociam acordos de delação. Procurada, a Camargo afirmou que não comenta rumores.
Até agora, só a Toyo Setal, que não estava na linha de frente do cartel
da Petrobras, aceitou colaborar com a Justiça. O potencial de estrago da
Camargo é bem maior. Uma das líderes do setor de obras públicas há
décadas, a empresa conhece segredos de construtoras, políticos e
governantes de hoje e do passado.
O diretor de outra construtora envolvida na Lava Jato diz que os
acionistas da Camargo já estavam diminuindo a presença no setor de obras
públicas e "estavam muito pressionados" por suas famílias por causa do
desgaste. "Mas haverá também pressão para que não façam acordo".
RACHA
Até o fim de 2014, as empreiteiras faziam força para viabilizar um pacto
coletivo com punições mais leves. Depois que o Ministério Público
rechaçou a ideia, passaram a buscar estratégias individuais de defesa, o
que provocou um racha entre elas.
Além da Camargo Corrêa e seus executivos, o empresário Ricardo Pessoa,
dono da UTC e apontado como líder do cartel, também negocia um acordo de
delação, como revelou a Folha.
"As empresas estão umas com medo das outras. Era isso que o Ministério
Público queria", diz o diretor de uma delas. A ironia é que ele mesmo
questiona a razão pela qual os colegas da Odebrecht e da Andrade
Gutierrez não foram presos, como vários dirigentes das demais firmas.
"Se os procuradores dizem que todos faziam parte do cartel, por que só
eles não foram presos? Antes achava que era questão de tempo, agora acho
que tem coisa", diz o executivo, sem explicar qual é sua desconfiança.
As empreiteiras perderam a unidade com a morte do ex-ministro Márcio
Thomas Bastos, em dezembro. Advogado da Camargo Corrêa e da Odebrecht,
ele coordenava a defesa do grupo.
Com trânsito no governo, na Justiça e no Ministério Público, ele era o
único advogado que tinha a confiança de boa parte das construtoras.
Um dia antes de morrer, Bastos despachou do quarto do Hospital Sírio
Libanês, em São Paulo, com os colegas que cuidavam diretamente das
defesas da Camargo e da Odebrecht.
Os empreiteiros não encontraram um substituto. Talvez não tenham mais tempo.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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