Um dia depois do apagão que atingiu 11 Estados e o Distrito Federal –e no mesmo dia em que o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) disse que o blecaute não ocorreu por falta de energia,
mas por uma sequência de desligamentos–, o ONS (Operador Nacional do
Sistema Elétrico) importou uma carga adicional de energia da Argentina
para atender a demanda no horário de pico.
Segundo o relatório IPDO (Informativo Preliminar Diário da Operação) do
ONS, referente a última terça-feira (20), o país importou uma média de
165 MW ao longo do dia. Essa transferência no horário de pico,
registrado às 14h48, atingiu 998 MW. A Aneel considera que 1 MW abastece
500 residências.
Na explicação que acompanha o boletim, o ONS dizia que o pedido foi
feito para reforçar o abastecimento das 10h23 às 12h e das 13h às 17h02.
A carga foi destinada especificamente ao sistema Sudeste/Centro-Oeste.
Desde 2010 que não se realizava esse tipo de operação entre os países.
A energia da Argentina entrou no Brasil por meio de uma interligação na estação de Garabi, na cidade de Garruchos (RS).
No mesmo dia, a região Sudeste/Centro-Oeste, considerada uma só pelo
ONS, recebeu energia de todas as demais regiões do Brasil. Uma das
características do SIN (Sistema Interligado Nacional) é que uma região
que tem excedente de geração de energia envia carga para regiões com
deficit.
ACORDO
Em nota, o ONS informou que assinou em 1º de janeiro de 2006 um acordo
cooperativo com a Compania Administradora del Mercado Mayorista Eletrico
da Argentina, que permite importações de em situações especiais.
O comunicado ressalta que o acerto é feito diretamente entre os
operadores e que o intercâmbio de energia nos dois sentidos vem sendo
adotado em diversos momentos ao longo da vigência do acordo.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, a importação de energia
da Argentina segue na linha do governo de buscar alternativas para
atender a demanda dos consumidores, principalmente no horário de pico
–que vem ocorrendo no início da tarde, em virtude do forte calor.
Como os reservatórios das usinas no Sudeste/Centro-Oeste estão baixos,
com 17,63% de seu nível, tem havido a necessidade de se importar energia
de outras regiões.
Na última terça-feira (20), a geração do Sudeste/Centro-Oeste no horário
de pico foi de 36.782 MW para uma demanda de 50.976 MW. O descasamento
entre oferta e demanda foi, portanto, de 14.194 MW.
Essa demanda não atendida foi coberta pela geração de usinas de outras
partes do país. Itaipu, por exemplo, enviou à região 11.495 MW; o Norte e
o Nordeste, mandou 1.527 MW; o Sul, 1.172 MW; e a Argentina, por fim,
contribuiu com 998 MW. A soma desses valores é sempre um pouco maior que
a demanda, pois considera possíveis perdas no sistema.
O baixo nível dos reservatórios fazem com que as hidrelétricas da região
Sudeste/Centro-Oeste, considerada a caixa d'água do sistema, gerem
menos energia que sua capacidade.
HISTÓRICO
Nesta terça-feira (20), porém, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, afirmou que não houve apagão. "O que houve foi um corte preventivo feito pelo operador para evitar o desligamento de maiores proporções", disse.
Já o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) voltou a afirmar nesta
terça que o apagão não ocorreu por falta de energia, mas por uma
sequência de desligamentos.
A posição do ministro tentou se sobrepor ao fato de que, segundo o
próprio ONS, houve um recorde de consumo de energia minutos antes de o
desligamento ocorrer.
A alegação também foi feita em um momento em que os reservatórios estão
historicamente mais baixos para um mês de janeiro e diante desta nova
temporada de seca em meio ao período chuvoso.
RESERVATÓRIOS BAIXOS
O nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste estavam na última
terça-feira mais baixos que em janeiro de 2001, ano em que o governo,
comandado à época por Fernando Henrique Cardoso, teve que colocar um
plano de racionamento de energia em prática.
Em janeiro de 2001, os reservatórios do Sudeste/Centro-oeste estavam
31,41% cheios. Na última terça, os mesmos reservatórios estavam em
17,63%. Em dezembro de 2001, os reservatórios estavam em 32,27%. Em
dezembro passado, os mesmos reservatórios estavam em 19,30%.
Além de reservatórios mais baixos, a situação atual com o passado tem
outra diferença sensível. Na época, o país não tinham uma quantidade
suficiente de usinas térmicas para geração de emergência em período de
seca nas hidrelétricas. A forte estiagem que se desenvolveu em uma das
mais graves crises hídricas da história faz com que, desde o início de
2014, quase todas as usinas térmicas entrassem em operação.
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