Em seu depoimento à Polícia Federal, o policial afastado Jayme Alves de
Oliveira Filho, conhecido como Careca, disse ter ''ouvido'' que o
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa teria aterrado uma piscina
em sua casa, no Rio de Janeiro, para guardar dinheiro.
Ainda não é possível saber o que os investigadores fizeram com a vaga
informação fornecida por Careca. Mas uma comparação entre imagens aéreas
antigas e recentes do local mostra que, de fato, uma piscina
desapareceu do imóvel de Costa, que fica num condomínio na Barra da
Tijuca (zona oeste do Rio).
No local onde havia um nítido quadrado azul rodeado de um piso claro,
bem na entrada de sua residência, há agora só um gramado plano.
Conforme o histórico de imagens de satélite do Google Earth, recurso
disponível para quem faz download da ferramenta, a casa de Costa ainda
era equipada com a piscina em 17 de setembro de 2009. A imagem mais
nítida da piscina, feita três meses antes, é a que ilustra esta
reportagem (confira abaixo).
Em 18 de janeiro de 2010, porém, a piscina já não estava mais lá. Nesta quinta-feira (15), a Folha sobrevoou o local. Na foto mais recente, feita pela reportagem, também só é possível identificar um gramado.
Preso na sétima etapa da Operação Lava Jato, em novembro, mas já em
liberdade, Careca trabalhava como carregador de dinheiro para o doleiro
Alberto Youssef, detido até agora.
Ele respondeu questionamentos sobre o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras no dia 18 de novembro.
CONTATO
No depoimento, disse que não mantinha contato com Costa, mas com seu
genro, Márcio Lewkowicz. "Conheço o Márcio da loja de móveis que ele tem
em Ipanema. Era a pessoa para quem eu entregava o dinheiro", disse.
O agente federal afirmou ter entregue ''umas seis vezes'' dinheiro ao
genro de Costa, mas não soube informar os valores. Ele negou frequentar a
casa do ex-diretor da Petrobras: "Não sei nem onde fica'', afirmou.
Indagado sobre o local onde Costa guardava o dinheiro que lhe era
entregue através do genro, disse supor que os montantes eram levados
para casa. Foi aí que o policial, voluntariamente, levantou a questão da
piscina.
"Posso acrescentar que já ouvi informações que, antes de sua prisão,
Paulo Roberto possuía uma piscina em sua residência na Barra da Tijuca,
onde está preso atualmente. Ouvi dizer que a mesma foi aterrada antes da
sua prisão e que possivelmente ele teria guardado valores onde existia a
piscina", afirmou.
Costa foi preso na Operação Lava Jato, mas deixou a cadeia após firmar
um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no ano
passado.
Atualmente ele cumpre prisão domiciliar em sua casa –agora desprovida de
piscina– na Barra da Tijuca. O imóvel foi comprado por ele em julho em
2002.
A Folha procurou o advogado de Costa, João Mestieri, para
comentar a declaração de Careca. Na quarta (14), ele disse que só
falaria com seu cliente no dia seguinte e faria o possível para dar
algum esclarecimento à reportagem.
Nesta quinta, ele não respondeu aos recados deixados em seu escritório, no celular e em seu e-mail.
A assessoria de imprensa do advogado também não respondeu. A Folha não localizou o genro de Costa.
DEPOIMENTOS
Para transportar dinheiro a mando de Youssef, Careca costumava usar as
credenciais de policial, uma forma de dissipar suspeitas. Ele fazia isso
em malas, maletas e até no próprio corpo.
O ex-policial prestou três depoimentos à PF em novembro. Em um deles, revelado pela Folha
na semana passada, citou o nome de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizendo que
Youssef teria lhe mandado entregar dinheiro numa casa que seria do
deputado.
No mesmo depoimento, Careca disse também que entregou R$ 1 milhão ao senador eleito Antonio Anastasia (PSDB-MG).
Tanto Anastasia quanto Eduardo Cunha negaram participação no esquema. Disseram que sequer conhecem Careca ou Youssef.
Na segunda (12), o advogado do doleiro, Antônio Figueiredo Basto, disse
que seu cliente não teve "negócios" com o tucano nem com o deputado
peemedebista.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
FOLHA
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