Mais relevante é que a Caixa vai pisar no freio das concessões de
empréstimos porque não tem mais dinheiro e o governo prometeu não fazer
mais dívida a fim de financiar os bancos públicos. Em suma trata-se de
mais medidas corretas, mas estelionatos eleitorais, do "ajuste" que não
viria, no caso do governo federal, ao "ajuste hídrico" de Geraldo "não
vai faltar água" Alckmin.
Os "ajustes que não viriam" devem derrubar o investimento, ao menos no curto prazo.
O financiamento imobiliário até que vinha muito bem. Para pessoas
físicas, o total de dinheiro emprestado crescia ao ritmo espantoso de
27% ao ano até novembro, dado mais recente. Fica longe do ritmo ainda
mais inviável de 55% do final de Lula 2. O total de dinheiro emprestado,
"estoque de crédito", a taxas de mercado porém encolhe, em termos
reais.
Os aumentos dos juros nos bancos públicos devem derrubar ainda mais o
investimento (formação bruta de capital fixo, FBCF, novas instalações
produtivas, equipamentos etc.). Em 2014, até o terceiro trimestre, a
FBCF caía 7,4% em relação a 2013. Caía mesmo com as taxas de juros de
vovó para neto que o BNDES cobrava das grandes empresas amigas do
nacional-empresismo. Em novembro, a taxa para financiar investimento era
de 7,2% ao ano. Descontada a inflação, de 0,6% ao ano: o governo dá
dinheiro.
O investimento não deve padecer apenas de juros mais altos. O governo
pretende cobrar imposto sobre instrumentos de captação de recursos
(letras rurais e imobiliárias), o que vai encarecer investimento. A
desvalorização do real encarece máquinas e equipamentos importados.
Há ainda salseiro provocado pela revelação da bandalheira da Petrobras,
entre outros desarranjos que o governo provocou na empresa. A petroleira
já anunciou que vai investir menos. Sem crédito, não terá como tomar
mais empréstimos e, enfim, não há como investir tanto mais estando tão
endividada e com o preço do petróleo no chão. O crédito lá de fora tem
se tornado mais escasso para empresas brasileiras, inclusive por causa
do rolo da Petrobras.
As empreiteiras estão enroladas, algumas pensam em recuperação judicial.
A desordem na Petrobras causa imenso tumulto: as empresas dependentes
da petroleira estão demitindo, não pagam pessoal e fornecedores. Uma
baderna em um setor que pesa muito no investimento total. Melancia do
bolo, o governo vai ter de cortar seus investimentos também.
Para que o investimento não apanhasse de novo neste ano, seria preciso
uma recuperação apoteótica e operística da confiança, no curto prazo
inviável, pois todo o mundo ainda espera para ver no que vai dar o
"plano real" do ministro da Fazenda. Uma desvalorização mais acentuada
do real, que deve vir, vai reordenar preços e rentabilidades, o que deve
ajudar a recuperação econômica, mas não tão cedo.
A travessia vai ser difícil.
Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi
secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência',
'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas
políticos e econômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos
COMENTÁRIO DA BLOGUEIRA: só tenho duas coisas a dizer: êh, êh!
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