Será mais do que uma simples modificação de agenda. Trocar a prevista
ida à suíça Davos por uma breve estada em La Paz será uma incoerência de
Dilma Rousseff.
A programação antecipava que Dilma se faria acompanhar dos ministros
Joaquim Levy e Nelson Barbosa na ida a Davos, a pequena cidade que
recebe o periódico piquenique suíço dos donos da riqueza mundial. De
repente, informa-se que Dilma está preferindo ir à posse do reeleito Evo
Morales. Ou seja, prestigiar uma prática política equivalente, nas
condições bolivianas, à que a Dilma do segundo mandato repeliu para
adotar as políticas e práticas bem vistas pelos convivas de Davos.
Ainda mais estranha se mostra a inversão da agenda presidencial se
confrontada com as decisões de governo que compõem o portfólio ideal
para uma entrada gloriosa nos salões de Davos.
Por aqui, propor aumento de impostos é mais perigoso do que charge com o
profeta. São Paulo criou até o impostômetro, a indicar cada centavo
saído de bolso privado para cofre público. Antes mesmo de assumir,
porém, Joaquim Levy falou em aumentar imposto –e nada, nenhum editorial,
nenhuma entrevista chiadora. Isso é que é confiança, saber o que
esperar de alguém, e receber mesmo.
Joaquim Levy ofereceu um café da manhã a jornalistas para anunciar-lhes,
entre a doçura da geleia e o suco que ajuda a descer, quem vai pagar
mais imposto. Não é o sistema bancário, merecedor do título de mais
lucrativo do mundo. Tão rentável que bancos estrangeiros vêm buscar aqui
o lucro que lá fora virou perda. Não são os cartões de crédito, com
seus juros sem nada semelhante no mundo, 258%, ou 40 vezes a inflação.
Nem vai o aumento de imposto incidir sobre a especulação financeira,
sobre a remessa de lucros para o exterior, ou sobre ganhos no mero jogo
de Bolsa.
O aumento de imposto vai cair em cima de quem trabalha e vive do que
ganha com o trabalho, para tanto registrado como se em sua pessoa
existisse uma empresa. O que chamam de "pessoa jurídica".
Para que não haja a suposição de uma incidência apenas ocasional sobre o
lado mais fraco, horas depois da gentileza de Joaquim Levy o governo
expeliu outra criação de sua índole: os juros da Caixa Econômica Federal
vão aumentar. A Caixa tem muitas linhas de financiamento mas só uma
terá os juros elevados. A de financiamento da casa própria, aquela via
salvadora dos que só alcançam a sonhada casa própria com os juros da
Caixa, porque essa casa é paga só com trabalho.
O novo governo Dilma, ou o governo da nova Dilma, conhece seus
objetivos. Joaquim Levy é claro: "A gente não tem nenhum objetivo de
fazer saco de maldades". Se há corte de despesas, por exemplo, R$ 7
bilhões da educação, nada de gastar com sacos.
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha,
é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com
perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve aos
domingos, terças e quintas-feiras.
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