Numa rara boa notícia, como não se ouvia há mais de 25 anos, cientistas
anunciaram a descoberta de uma nova classe de antibióticos.
Melhor ainda, a teixobactina revelou-se eficaz ao combater alguns dos
piores pesadelos dos infectologistas, como o Staphylococcus aureus
resistente à meticilina (MRSA), cepas da tuberculose difíceis de tratar e
certas variedades do Clostridium difficile.
Acredita-se que, em até dois anos, a nova droga, que inibe a capacidade
da bactéria de sintetizar lipídios usados na formação de sua parede
celular, esteja pronta para ensaios clínicos em humanos.
Havia de fato a demanda por novos fármacos capazes de conter bactérias
super-resistentes. O mais recente até aqui, a daptomicina, havia sido
descoberto no já longínquo ano de 1987.
Se bactérias imunes a antibióticos antes afetavam de forma quase
exclusiva pacientes imunodeprimidos, que já haviam passado por vários
tratamentos, hoje médicos enfrentam infecções comunitárias que não
respondem bem às drogas de primeira escolha.
E as previsões da biologia evolutiva indicam que as bactérias sempre
serão mais eficientes em desenvolver resistência do que cientistas em
desenvolver drogas.
Um aspecto do problema diz respeito aos incentivos. A combinação de
regras para proteção de patentes consideradas fracas e os custos cada
vez maiores para criar, testar e comercializar um medicamento fez com
que os grandes laboratórios se desinteressassem da pesquisa de
antimicrobianos. Eles preferem dedicar-se a áreas mais rentáveis, como
as moléstias crônicas.
Sem mudanças na política de incentivos ou a mobilização de universidades
e laboratórios públicos, novidades tenderão a ser raras.
O outro aspecto diz respeito ao uso pouco sábio desses antibióticos. Os
despautérios começam fora da medicina, com criadores que os utilizam só
para facilitar a engorda dos animais, passam por médicos que os receitam
mesmo quando não há indicação e terminam nos pacientes que se valem até
de falsificações para adquiri-los.
O péssimo hábito de profissionais de saúde de não lavar as mãos antes e
depois de encostar em doentes e equipamentos também contribui para criar
ambientes promíscuos nos quais bactérias trocam fragmentos de DNA que
as ajudam a driblar a ação das drogas.
Sem coordenação de esforços para acertar esses aspectos, a crise mundial
em torno da resistência a antibióticos só tende a piorar.
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