BRASÍLIA - Jânio Quadros não gostava de vices. Em 1985, prestes a
voltar à Prefeitura de São Paulo, deixou claro que o companheiro de
chapa não deveria se animar com o futuro: "Vice não tem função. Receberá
uma sala e uma cadeira".
Foi assim que a presidente Dilma Rousseff tratou Michel Temer desde que
os dois subiram a rampa do Planalto pela primeira vez, em 2011. Fiador
da aliança com o PMDB, o vice-presidente ficou esquecido em seu
gabinete, num anexo do palácio.
Lula usou José Alencar para se aproximar do empresariado. Chegou a
nomeá-lo ministro da Defesa, em meio a uma crise com militares. Dilma
preferiu mandar Temer para longe, em missões internacionais a milhares
de quilômetros de Brasília.
Não recorreu ao vice nem para aproveitar seu conhecimento de direito
constitucional. Teria evitado o desgaste de anunciar e desistir da
constituinte exclusiva para a reforma política, sob críticas de
juristas.
Temer também foi preterido no loteamento na Esplanada. Dos atuais sete
ministros do PMDB, só indicou Eliseu Padilha (Aviação Civil).
O isolamento aumentou no início do mês, quando os peemedebistas
derrotaram o governo na disputa pela presidência da Câmara. E bateu
recorde com as especulações sobre um processo de impeachment, que
poderia alçar o vice à Presidência.
Agora Dilma é forçada a estender a bandeira branca ao PMDB, com direito a
jantar de reconciliação e promessas de incluir Temer no núcleo
político. O problema é que a balança de poder na sigla mudou. A bola
passou para as mãos de Eduardo Cunha, que os petistas consideram menos
confiável do que o vice.
*
Ao desistir da indecente ideia de dar passagens aéreas às mulheres dos
deputados, o presidente da Câmara não evoluiu em suas convicções. Apenas
percebeu que corria o risco de entrar na mira dos novos protestos
contra Dilma, no dia 15.
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