BRASÍLIA - A confirmação de que os presidentes do Senado e da
Câmara estão na lista do petrolão produziu um efeito imediato: a crise,
que estava alojada apenas no Palácio do Planalto, atravessou a rua e
chegou ao comando do Congresso.
A pressão agora se volta contra o senador Renan Calheiros e o deputado
Eduardo Cunha, ambos do PMDB. Depois de um mês acumulando forças, os
dois terão que salvar a própria pele no Supremo Tribunal Federal.
O diagnóstico não deve ser confundido com um alívio para Dilma Rousseff,
como demonstrou a primeira reação de Renan. Para se defender, o senador
atacou o governo, em uma declaração de guerra à presidente da República
e ao PT.
Este é o significado da decisão de devolver a medida provisória que
anulava a desoneração nas folhas de pagamento. O peemedebista bateu
pesado ao acusar Dilma de "apequenar o Parlamento" e "deturpar o
conceito de separação de Poderes".
O discurso, tão agressivo quanto inesperado, transformou Renan em herói
da oposição –a mesma que há um mês lutava para tirá-lo da presidência do
Senado. Foi uma saída engenhosa. Se o alagoano tivesse mantido a
espinha curvada ao governo, os oposicionistas começariam uma campanha
diária para derrubá-lo.
O que se viu nesta terça foi justamente o contrário: líderes do PSDB,
como Aécio Neves e José Serra, derramaram-se em elogios ao
ex-adversário. É um jogo pragmático. Para os tucanos, não interessa se
Renan será condenado por envolvimento no petrolão, e sim inflar a sua
ira para aumentar o desgaste do Planalto.
O peemedebista ganhou a primeira batalha ao devolver a MP, atingindo um
pilar do ajuste fiscal. Refém da própria fragilidade, Dilma não poderá
revidar como gostaria. A situação recomenda cautela para reduzir o risco
de novas derrotas no Senado.
Na Câmara, a reação de Eduardo Cunha ainda é uma incógnita. O Planalto
já sabe do que ele é capaz se também escolher a tática da guerra.
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