Nunca antes na história deste país um presidente (no caso, uma
"presidenta") foi tão e tão duramente atacada como está sendo Dilma
Rousseff neste que é apenas o início do terceiro mês do seu segundo
governo.
Que seja atacada pela oposição é do jogo. Oposições são feitas para criticar governos, qualquer governo, em qualquer país.
Mas que os ataques venham também de amigos, aí já se entra em uma
situação de inquietante anomalia. Pior ainda é quando parte de um
subordinado, no caso o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Aí, a anomalia é total, surrealista até. Se um ministro acha que a chefe
é capaz de cometer um erro "grosseiro" e de fazer "uma brincadeira que
custou caro aos cofres públicos", o passo normal seguinte seria pedir
demissão.
Levy prefere autoflagelar-se para continuar no cargo. Diz que foi
"infeliz" na sua frase. Foi apenas sincero, a arrogante sinceridade de
quem se acha o único capaz de corrigir os "erros" dos antecessores.
Dilma também engoliu o ataque, talvez (ou certamente?) porque não tem
autonomia para demitir um auxiliar que faz tão mau juízo de sua
competência.
Do subordinado crítico, pulemos para um amigo, o jornalista Ricardo
Kotscho, secretário de Imprensa no início do primeiro período Lula e
amigo dele e de Dilma. Ela, aliás, convidou-o para trabalhar na campanha
de 2010, mas ele recusou.
Escreve agora em seu blog: "Pelas bobagens que tem falado nas suas raras
aparições públicas, completamente sem noção do que se passa no país,
melhor faria a presidente se continuasse em silêncio, já que não tem
mais nada para dizer".
Nem eu cheguei tão longe, e olhe que, às vezes, me penitencio
silenciosamente por ter sido eventualmente impiedoso demais com todos os
presidentes sobre os quais escrevi nos meus 28 anos de colunismo.
Se é assim com um subordinado e com um amigo, torna-se natural que um
opositor, Fernando Henrique Cardoso, ponha de lado o seu viés
naturalmente conciliador e compare o comportamento de Dilma no caso
petrolão ao de um batedor de carteiras.
Falta citar o público: segundo o mais recente Datafolha, Dilma é
mentirosa para 46% dos entrevistados, desonesta para 47%, falsa para 54%
e indecisa para 50%.
Nenhum desses defeitos é motivo para impeachment, nos termos da
Constituição. Por mais que juristas digam o contrário, tampouco acho que
haja outro motivo suficiente para afastar a presidente.
Mesmo que houvesse, trata-se de uma iniciativa que só prospera em ambiente político favorável.
Não parece haver ainda, mas é importante lembrar que os dois nomes na
linha sucessória são do PMDB (primeiro, claro, o vice Michel Temer;
segundo, o presidente da Câmara, hoje Eduardo Cunha).
O formidável desgaste de Dilma poderia atiçar o já pantagruélico apetite
pelo poder desse partido, decisivo em qualquer iniciativa que passe
pelo Congresso. Dilma, portanto, precisa se preocupar mais com sua
suposta base de apoio do que com a oposição, que não chegaria ao poder
com o impeachment.
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