Alvo de um dos inquéritos da Operação Lava Jato, o senador Lindbergh
Farias (PT-RJ) confirma ter recebido R$ 2 milhões por intermédio do
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em 2010, mas nega ter
participado do esquema de corrupção na estatal.
Ele diz que o dinheiro foi doado legalmente pela empreiteira Andrade
Gutierrez, também investigada. Costa foi preso em 2014, quando
colaborava com a campanha derrotada do petista ao governo do Rio.
Lindbergh reconhece que foi à sede da Petrobras para pedir doações. "De
fato, você pode até dizer que é impróprio. Só que não é ilegal."
O senador diz que conheceu Costa ao participar de inaugurações da
estatal no Rio, com a presença do então presidente Lula. Ao se
candidatar, decidiu procurá-lo.
"Eu sabia que ele era uma pessoa muito bem relacionada na Petrobras e
perguntei se ele conhecia alguma empresa que pudesse me receber. Ele
ligou para alguém da Andrade Gutierrez e pediu para me receber", conta.
O petista diz ter falado "algumas vezes" com Otavio Azevedo, presidente da construtora.
"Eu fui na Andrade Gutierrez, falei da minha campanha. Ninguém falou
mais de Paulo Roberto. Ninguém falou de propina, muito pelo contrário",
afirma.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sustenta que Lindbergh
"tinha conhecimento do caráter ilícito dos valores recebidos, pois não
haveria qualquer justificativa lícita razoável" para recorrer a Costa.
O senador contesta a acusação e diz que o Ministério Público não tem
provas. "Você acha que alguém disse: 'Olha, esse dinheiro aqui que eu
vou te ajudar é de uma propina?' Isso não existe".
Os investigadores afirmam que havia conexão entre as doações feitas a
políticos pelas empreiteiras e as propinas que elas pagavam para fechar
contratos com a estatal.
"Como eu poderia saber que o dinheiro de uma empresa grande estava
saindo para a minha campanha de um processo como esse? Eu não sabia.
Ninguém sabia disso aí", rebate Lindbergh.
O senador acusa o Ministério Público de "criminalizar doações legais":
"Do jeito que a lista foi lançada, estão misturando gente que recebia
mesada de propina com doação legal de campanha".
"Essas empreiteiras ligadas à Lava Jato fizeram mais de 60% das doações
nas últimas campanhas. Se eu recebo dinheiro de uma grande empresa,
nunca passou pela minha cabeça saber se era ilícito ou não era", afirma.
CARA-PINTADA
Ex-líder estudantil, Lindbergh despontou como cara-pintada nos atos pelo
impeachment de Fernando Collor, em 1992. Agora está citado num
escândalo com o ex-presidente.
"É horrível. O Collor tem uma acusação real, concreta. O meu caso é
diferente", diz ele, que ficou emocionado ao falar do impacto do caso
sobre sua família.
"Estou numa lista que é praticamente uma condenação. Nunca sofri tanto.
Pedi doação legal e entrei na lista com gente que fez atos bárbaros de
corrupção. Isso pode estar destruindo a minha carreira política".
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