A internet é uma escola de ódio –basta ler a sessão de comentários,
abaixo desse texto.
Comentar em portais dá trabalho, quem já tentou
sabe. E é um trabalho não remunerado, obviamente. Sempre desisto no
meio, em geral quando pedem o CPF. "Ah, deixa, não era importante
mesmo".
No entanto, quem odeia de verdade tem toda a paciência do mundo. Sempre
fico espantado com a quantidade de pessoas que gastam minutos preciosos
da vida na expressão do ódio não remunerado.
Quando pequeno (de idade, já que continuo pequeno de tamanho) não
gostava da cor verde –e nem de cenoura, feijão, orégano, salsinha, peixe
cru, arroz, beterraba ou berinjela.
Também não gostava de palhaços, do
Flamengo, da Xuxa ou do Power Ranger verde (sim, pouca gente se lembra
dele, mas ele existia). Não gostava de ir à escola, nem à natação, nem à
terapia, nem à ginástica olímpica (não me perguntem o porquê, mas eu
fazia ginástica olímpica). Não gostava de dormir e menos ainda de
acordar. Não gostava de ter que falar com pessoas que eu não conhecia.
Não gostava de Carnaval.
Não-gostar era um esporte –o único que eu praticava com disciplina e
fervor. E teria continuado não-gostando pro resto da vida não fosse a
minha mãe –pós-doutora na arte de gostar do mundo. Toda vez que eu dizia
um peremptório "não gosto", ela soltava, na lata: "aprende a gostar" e
me empurrava a salsinha goela adentro. Eu espumava de ódio –para mim,
era óbvio que não-gostar era um traço imutável da personalidade, assim
como a timidez, que, quando eu usava como desculpa, ela rebatia:
"timidez é falta de educação".
Com o tempo, vi pessoas mudarem de time, de sexo e até de cor dos olhos
(no Panamá) e deduzi que gostar ou não gostar de salsinha não podia ser
uma questão tão séria –e seria muito melhor para mim que não fosse.
Imagine duas vidas paralelas. Em uma delas, você gosta da Anitta –ou,
pelo menos, a existência dela não te incomoda. Na outra, toda vez que
você vê a cara da Anitta você tem engulhos, quando ouve a voz da Anitta o
estômago revira, você evita ir a festas porque sabe que vai tocar
Anitta. O objeto não-gostado acaba ocupando um espaço gigantesco do seu
tempo –muito maior do que os objetos gostados. Aprender a gostar é,
sobretudo, perceber que não vale a pena perder tempo com o que você não
pode mudar.
A matemática é simples: sua vida vai ser melhor se você gostar –não só
da salsinha, mas gostar de gostar. Ou melhor: gostar de gostar de
gostar. Obrigado, mãe.
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