O discurso de posse de Dilma Rousseff dedica esquálidos quatro parágrafos à política internacional de seu governo.
É a confirmação de que a presidente não tem o mais leve interesse pelo tema.
Não seria de todo errado, se o mundo decidisse parar para esperar que o
Brasil tome jeito e volte a tentar mostrar presença no confuso planeta
que nos toca viver.
Além da indiferença em relação ao assunto, Dilma ainda se limita a
repetir prioridades, o que seria uma positiva demonstração de coerência
se não tivessem mudado as circunstâncias, o que, naturalmente, exigiria
troca também de prioridades.
Dilma repetiu que o Brasil continuará apostando, por exemplo, no
Mercosul e nos Brics. Foi uma boa ideia lá atrás, mas, agora, ambos mais
atrapalham do que ajudam.
O Mercosul está em estado catatônico já faz um bom tempo, mesmo quando a economia brasileira era mais vigorosa.
Agora que ela patina, não faz muito sentido escorar-se em países que
estão oficialmente em recessão, caso de Argentina e Venezuela, os dois
principais países do bloco, fora o próprio Brasil.
Para fazer sentido, o Mercosul teria de trabalhar na coordenação de
políticas macroeconômicas, uma tese que o então ministro Luiz Fernando
Furlan defendeu vigorosa e inutilmente nos tempos de Lula.
Com as políticas cambiais e com a inflação dos dois vizinhos, mostrar-se
ao lado deles não é exatamente o que agrada aos investidores –e foi
para agradá-los que Dilma escolheu Joaquim Levy para os ajustes na
economia.
Passemos aos Brics. Nunca foi um grupo que de fato coordenasse suas
políticas, a não ser para ações puramente corporativas, como criar um
banco de desenvolvimento. Banco, aliás, que vai devagar, quase parando:
só no dia 29 de dezembro é que o projeto foi enviado ao Congresso
brasileiro, embora o acordo tivesse sido alcançado em julho.
Mais: quando foi criado, os Brics eram um grupo de estrelas emergentes e, em sendo assim, convinha escorar-se nos parceiros.
Hoje, o brilho está opacado. Aliás a Rússia, um dos Brics, está metida
em uma crise da qual seus dirigentes admitem que não sairão antes de
dois anos.
Além disso, brincar com a Rússia (e com a China) contradiz totalmente a
afirmação do discurso de posse de que a "inserção soberana [do Brasil]
na política internacional continuará sendo marcada pela defesa da
democracia".
Se é para pautar-se pela democracia, o melhor que o Brasil tem a fazer é
dar consequência ao que a própria Dilma combinou com Joe Biden, o
vice-presidente norte-americano: "Trabalhar em parceria igualitária para
desenvolver uma robusta e ambiciosa agenda para renovada cooperação
bilateral, regional e global".
Ou, posto de outra forma, a diplomacia brasileira não pode continuar
pretendendo ficar em cima do muro nas grandes questões internacionais.
Precisa escolher lado –e o único lado em que a democracia é defendida é o
do Ocidente, por muito que escorregue muitas vezes. Não há parceiros
perfeitos, mas alguns são mais imperfeitos que outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O Blog Olhar de Coruja deseja ao novo Presidente Jair Messias Bolsonaro tenha grande êxito no comando do nosso País.