A queda de quase 7% nas ações da Petrobras após a escolha de Aldemir Bendine
para substituir Graça Foster no comando da estatal fez com que a Bolsa
brasileira encerrasse a sexta-feira (6) em terreno negativo.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou com queda de
0,90%, a 48.792 pontos. Das 68 ações negociadas no índice, 22 subiram,
42 caíram e duas fecharam sem alterações no preço. Apesar do tombo, a
Bolsa acumula alta de 4% na semana. No ano, a Bolsa cai 2,43%.
O volume financeiro negociado no pregão foi de R$ 7,27 bilhões, acima da
média diária do ano, que é de R$ 6,46 bilhões até 5 de fevereiro.
A queda da Bolsa foi influenciada pela forte desvalorização sofrida
pelos papéis da Petrobras após a informação de que Aldemir Bendine,
presidente do Banco do Brasil, substituiria Graça Foster no comando da
petrolífera.
Os papéis preferenciais da estatal, os mais negociados, fecharam o dia
em queda de 6,94%, para R$ 9,12. Na semana, as ações acumulam alta de
11,5%, enquanto no ano caem 8,98%. Em 12 meses, a queda é de 35,8%.
As ações ordinárias, com direito a voto, fecharam com queda de 6,52%,
para R$ 9,03. Na semana, as ações subiram 12,3%. No ano, caem 5,84%,
enquanto em 12 meses a desvalorização é de 32,1%.
O nome de Bendine desagradou o mercado e parte do corpo técnico da companhia,
que esperava nome do setor privado tanto para comandar a estatal como
para a diretoria financeira -cargo a ser ocupado pelo vice-presidente de
finanças do Banco do Brasil, Ivan Monteiro.
"O mercado esperava um nome diferente, de fora do governo, indicado pelo
Joaquim Levy [ministro da Fazenda] e que trouxesse credibilidade à
empresa. A escolha dos nomes, de certa forma, frustrou bastante os
investidores", afirma André Moraes, analista da corretora Rico.
Para Bruno Piagentini e Daniel Liberato, analistas da Coinvalores, para
agradar aos investidores o executivo escolhido deveria ser um nome do
mercado, e não "indicação política".
A escolha de Bendine não foi unanimidade dentro do Conselho de Administração da empresa. Segundo a Folha apurou, três de dez conselheiros da Petrobras votaram contra Bendine. Conforme fato relevante divulgado pela empresa, a aprovação do nome de Bendine e dos demais diretores ocorreu por "maioria".
Bendine esteve à frente do BB desde 8 de abril de 2009, em substituição ao então chefe do banco Antonio Francisco de Lima Neto.
Ele foi escolhido para o cargo na gestão do ex-presidente Lula para
reduzir os juros banco e o aumentar do volume de crédito. Na ocasião o
mercado não gostou da mudança, e as ações do BB caíram 8,15% num dia em
que a Bovespa subiu 0,82%. Investidores viram a troca como uma
interferência do governo, que estaria insatisfeito com a demora do BB em
reduzir suas taxas para estimular a economia e amenizar a crise de
então.
Em agosto do ano passado, a Folha revelou que ele foi autuado pela Receita Federal por não comprovar a origem de aproximadamente R$ 280 mil em seu patrimônio.
No mesmo mês, a Folha divulgou que um ex-motorista do BB, em
depoimento ao Ministério Público Federal, afirmou que fez diversos
pagamentos em dinheiro a pedido de Bendine e que também transportou
recursos em espécie a mando do presidente do BB.
Em outubro, a Folha mostrou que Val Marchiori obteve R$ 2,7
milhões num empréstimo subsidiado pelo governo, a partir de uma linha do
BNDES, contrariando diversas normas internas do BB.
As ações do Banco do Brasil fecharam com queda de 3,91%, para R$ 21,90. Bendine será substituído por Alexandre Abreu, vice-presidente de Negócios de Varejo, no comando do banco público.
EDUCAÇÃO
Além das ações da Petrobras, o destaque ficou com os papéis da Kroton
–empresa do setor educacional–, que perderam 10,48%, para R$ 10,25. A
empresa piorou as expectativas de crescimento de sua base de alunos,
principalmente no curto prazo, após as mudanças do governo federal nas
regras do programa de financiamento estudantil Fies.
A companhia agora prevê expansão de 8% na sua base de alunos para 2015. Já para 2016, a estimativa passou para 7%.
A maior alta do Ibovespa ficou com os papéis da CSN, que subiram 4,09%,
para R$ 4,58. As ações da América Latina Logística (ALL) ficaram em
segundo lugar, após subirem 4,07%, para R$ 4,60, em meio a expectativas
positivas sobre julgamento, na semana que vem, do Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica) da fusão com a Rumo Logística, do
grupo Cosan.
Os investidores analisaram também o IPCA (índice oficial de inflação),
que começou o ano pressionado. O índice teve alta de 1,24% em janeiro, a
maior desde fevereiro de 2003 (1,57%). Em dezembro, o índice já havia
sido elevado (0,78%), resultado que levou o IPCA a fechar o ano de 2014
muito perto do limiar da meta do governo -ficou em 6,41% para um teto de
6,5%.
"A pressão inflacionária já estava precificada pelo mercado. Apesar de o
dado de IPCA chamar a atenção, a Petrobras roubou a cena nesse
período", diz Leandro Martins, analista da Walpires Corretora.
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