10 fevereiro, 2015

Bem feito!

SÃO PAULO - Quase a metade dos brasileiros (47%) considera a presidente Dilma Rousseff desonesta. Para 54%, ela é só falsa. Esses dados, que saíram da pesquisa Datafolha publicada no fim de semana, devem estar doendo no fundo da alma da presidente. Exceto no caso de cleptocratas patológicos, o que move políticos é, em última instância, o desejo de ser amado por todos. 

O baque, porém, é justo. A mandatária nem sequer fingiu guardar um luto decente antes de começar a adotar as medidas que não só prometera jamais aplicar como ainda acusara seus adversários de planejar. O problema, é claro, não está nas medidas, cujo sentido geral é correto, mas no fato de ter enganado o eleitor. Segundo o Datafolha, 60% consideram que ela mentiu na campanha. 

Seria precipitado, porém, ver aí o colapso do governo Dilma. Para o bem e para o mal, a raiva é uma emoção quente, que não se sustenta por muito tempo. Logo denúncias envolvendo parlamentares se tornarão públicas e a carga de indignação deve, senão arrefecer, ao menos distribuir-se de modo mais equânime. 

É preciso, ainda, reconhecer uma virtude em Dilma. Ela até caminha prazenteiramente para o abismo, mas, quando vê o precipício, refuga e não salta, ao contrário de uma Cristina Kirchner ou um Nicolás Maduro. Ainda que muito a contragosto e de forma claudicante, ela agora está fazendo o que é preciso para evitar que a economia se deteriore mais. 

Crises trazem uma boa dose de sofrimento para a população, mas são também uma oportunidade para o país avançar institucionalmente. Seria importante aproveitar uma conjuntura de Executivo e Legislativo enfraquecidos para aprovar uma agenda de reforma do Estado que reduza o poder discricionário de autoridades (fonte de corrupção e ineficiência) e o substitua por rotinas e processos tão impessoais quanto possível. A Magna Carta, vale lembrar, surgiu de um rei fracassado. 


hélio schwartsman Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou 'Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão' em 2001. Escreve de terça a domingo.

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