Em meio a um racha significativo na base de apoio ao governo Dilma, a
Câmara dos Deputados define na noite deste domingo (1º), em votação
secreta, quem comandará a Casa em 2015 e 2016.
Líder da bancada do PMDB e protagonista de rebeliões contra o Planalto,
Eduardo Cunha, 56, reunia até a véspera o apoio oficial de sete
partidos, excluídos os nanicos: PMDB, PTB, SD, DEM, PRB, PSC e PP -este
último decidiu o apoio ao peemedebista neste sábado (31), apesar de
pressão contrária do governo.
As sete siglas somam 200 dos 513 deputados (39%).
Polêmico, ele pavimentou sua candidatura a despeito dos esforços do
governo para dinamitar suas pretensões -o que incluiu uma força-tarefa
de ministros que patrocinaram ameaças de retaliação e oferta de cargos
para garantir votos para o candidato do Planalto, Arlindo Chinaglia.
Para tentar minimizar essa reação, Cunha sempre negou que fará uma
gestão de oposição. "Quem achar que vou exercer presidência de oposição
vai ter que reclamar no Procon", voltou a dizer na manhã deste sábado.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Ex-presidente da Câmara (2007-2008), Chinaglia, 65, tem o apoio de PT,
PSD, PROS, PCdoB, PDT e PR -179 deputados (35%). No caso do PR, que
ameaçava aderir a Cunha, a pressão do Planalto funcionou e a sigla
decidiu no final da tarde de sábado apoiar oficialmente o petista.
Corre por fora Júlio Delgado (PSB-MG), que tem o apoio de PSDB, PPS e PV
(106 cadeiras, 21% do total). "Muitas surpresas podem ocorrer até
amanhã", disse neste sábado. Chico Alencar (RJ), do nanico PSOL, lançou
sua candidatura para marcar posição.
Apesar dos apoios oficiais, praticamente todas as bancadas devem
registrar traições na votação secreta, segundo avaliação das duas
campanhas e da maioria dos líderes partidários na Câmara.
Com um placar apertado no apoio oficial, o grau de traição pode definir a
disputa. O PSDB, por exemplo, apesar do discurso pró-Delgado, deve
despejar votos em Cunha.
Integrantes da campanha de Chinaglia reconhecem que há petistas que não votarão no candidato do partido.
Em contrapartida, apostam que haverá defecções do lado que apoia o
peemedebista, principalmente do grupo de deputados novatos. Para os
petistas, parte desses novos parlamentares veria Cunha como adepto de
velhas práticas de se fazer política.
A eleição ocorre em um dos momentos de maior tensão entre Planalto e
PMDB, principal aliado da coalização que apoia o governo da presidente
Dilma Rousseff.
Qualquer que seja o resultado que saia das 14 cabines de votação que
foram instaladas no plenário da Câmara, a petista terá problemas.
Se Cunha vencer, será uma derrota clara do PT e do Planalto, que
mobilizou aparato político para evitar seu triunfo. Ele terá, nesse
caso, poder significativo de criar problemas para o governo, entre eles o
de dar seguimento a CPIs -a oposição quer instalar quatro já no início
da legislatura.
Caso Chinaglia vença, o triunfo governista será ofuscado em boa parte
pela perspectiva de enfrentar um troco amargo do maior partido aliado no
Congresso.
Isso em um ano com ameaça de CPIs, votações de projetos importantes e
prováveis processos de cassação contra congressistas cujos nomes devem
ser vinculados ao escândalo de corrupção na Petrobras, que ainda tem
alcance incerto sobre os políticos.
A votação começa às 18h e pode ser decidida em 2º turno caso nenhum dos
candidatos obtenha mais da metade dos votos de seus pares.
Também serão escolhidos os outros dez cargos da cúpula da Câmara, como o
de 1º secretário, deputado que comanda o dia a dia da execução do
orçamento da Casa, da ordem de R$ 5,1 bilhões.
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